segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O DIÁRIO DE UM EXORCISTA - ENTREVISTA COM FABIO TOMASINI

por Emerson Links.



  Com fama de perfeccionista e egresso do teatro, Fabio Tomasini vai sempre além da interpretação básica de alguns colegas, valorizando, desde um pequeno adereço de época de um filme que esteja trabalhando até a visão de mundo do personagem que defende. Também conhecido no meio artístico como renomado dublador de filmes, o ator paulistano está entre os três principais protagonistas de "O DIÁRIO DE UM EXORCISTA - ZERO", o primeiro longa-metragem brasileiro a tratar com profundidade o tema exorcismo. Com tantas histórias de bastidores que conhece poderia realmente escrever um livro sobre o assunto. Nesta entrevista enxuta, Fabio Tomasini, dá uma ideia de como foi sua carreira até então, no cinema, teatro e televisão.




Primeiramente, a pergunta óbvia, para quem ainda não sabe, seu nome artístico é o mesmo da certidão de nascimento?

FABIO TOMASINI: Meu nome real é Paulo Fábio Roberto. Em artes uso Fábio Tomasini. Essa mudança de nome tem uma história: minha mãe tinha origens em uma família de grandes posses. Meu avô, pai dela, era um industrial gráfico muito bem sucedido desde os anos 20/30. Cujo sobrenome era bem conhecido na época. Mamãe era muito refratária a ter “artistas” incluídos na família. Muito especialmente seu único filho. Fato esse comprovado pelo fato que desde os dois anos e meio, quando comecei a desenhar, ela rejeitava meus desenhos dizendo: ”Não está bom. O que você pretende? Ser artista? Artista é profissão de marginais. ”

Fale um pouco de suas origens e influências, antes de ingressar nas artes.

FABIO TOMASINI: Meus quatro avós são italianos, mas casaram-se no Brasil. Meus pais são nascidos e criados em São Paulo/Capital. Alguns vizinhos e tios paternos artistas. Tinha uma tia que foi professora de piano, o que acostumou meus ouvidos com a música desde pequeno. Um tio, irmão de meu pai, tocava violino. Minhas primas, presbiterianas, eram formadas em piano e cantavam no coral da igreja. Quando nos reuníamos nos domingos em casa de minha avó paterna, depois das refeições, formávamos corais divididos em vozes, regidos por uma de minhas primas. Fui vizinho de um grande flautista (Prof. João Dias Carrasqueira”, pai de Maria José Carrasqueira e Antonio Carlos Carrasqueira, hoje dois renomados músicos, ela com concertista de piano e ele flautista. Fui vizinho também de Dina Sfat, uma grande atriz e de Marlene Mariano, apresentadora de TV. Como sempre tive televisão, desde que nasci, despertou em mim a curiosidade nas artes cênicas, que acompanhava pela TV.

Quando você sentiu o primeiro sinal de que a carreira artística era rumo a ser tomado?

FABIO TOMASINI: Aos 9 para 10 anos, quando fui indicado para participar de um programa na extinta TV Tupi Sabatinas Maisena). Nesse período, estudei no Liceu Tiradentes, no bairro do Sumaré, próximo a TV Tupi, colégio de propriedade de um primo de meu pai; e onde estudava a maioria dos filhos dos artistas da emissora. Posso citar os filhos de Glória Menezes, de Lima Duarte (Débora Duarte), o filho do José Parisi, a filha de Vida Alves e os filhos de Walter Stuart. Por ter ido bem numa prova de geografia, o Professor Luciano Roberto, diretor  proprietário da escola  (e como já disse, primo de meu pai), inscreveu-me no referido programa.  Desta forma fui parar na TV Tupi. Ao conhecer os estúdios, cenários e artistas, fiquei  absolutamente encantado. E saí de lá dizendo para mim mesmo: “É dentro de um estúdio que eu quero trabalhar”. Como já me apresentava nos recitais e algumas peças de teatro amador nas escolas onde estudei começou a despertar em mim o “bichinho da arte”, a entrar a “serragem do picadeiro” em minhas veias. Um dia, já adolescente, Alberto D’Aversa (diretor de teatro), percorreu as escolas dos bairros vizinhos, escolhendo “alunos”, para fundar una Escola de Teatro, E eu fui um dos escolhidos.

Depois do teatro, como você foi parar na TV e no cinema? Quais foram suas experiências mais marcantes?

FABIO TOMASINI: Ao terminar o programa que citei acima, o diretor do programa Sítio do Pica-Pau Amarelo (Júlio Gouveia) notou o garoto muito branco, de cabelos cacheados louro-arruivados e me convidou para interpretar o anjinho da asa quebrada. Fique muito excitado com o convite, mas obviamente não comuniquei aos meus pais, pois certamente seria proibido (naquela época os rigores do Juizado de Menores não eram tão radicais). Acabei indo aos estúdios e, mesmo sem autorização, participei dos ensaios e da apresentação.

Quais foram os melhores personagens que você viveu no teatro, cinema e TV?

FABIO TOMASINI: Sargento Trotter, na peça A Ratoeira; Gal. Isidoro Dias Lopes, no docudrama São Paulo Cidade Aberta; Gal. Olympio da Silveira na minissérie Amazônia; Padre Thomas Biaggio no longa "Diário de Um Exorcista". O banqueiro judeu-americano, no filme A Primeira Missa- Ou Tristes Tropeços, Enganos e Urucum. Foram tantos que ficaria difícil nomear aqui.

Quais grandes atores você adorou contracenar?

FABIO TOMASINI: Tantos... mas destaco minha participação na novela Belíssima, quando contracenei com Dona Fernanda Montenegro e Vera Holtz.

Quais personagens adoraria interpretar e que ainda não lhe fizeram convite para tal?

FABIO TOMASINI: Um Grande vilão. Os vilões sempre exigem emoções mais fortes e, portanto, interpretações mais contundentes.




Quais são os autores que você admira na literatura e na dramaturgia?

FABIO TOMASINI: Aghata Christie, Machado de Assis, José de Alencar. Aghata, por ser autora de livros, novelas e textos teatrais com temática policial. Machado de Assis e José de Alencar, quase uma imposição escolar, pelos grandes clássicos que escreveram. E Graciliano por duas obras: Grande Sertão Veredas e Memórias do Cárcere, por uma curiosidade sobre a realidade política brasileira.

Incrivelmente, verifiquei aqui que você fez a primeira versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo para a TV.

FABIO TOMASINI: Já contei como fui parar no Sítio. Foi uma grande experiência, por ser a primeira. Os episódios eram transmitidos ao vivo, pois o vídeo-tape, na época, ainda não era uma prática comum no Brasil. Mas confesso que trabalhar com Lúcia Lambertini foi algo que marcou minha vida.
Você também participou de históricas novelas de TV como “O Direito de Nascer”e “Nino, O Italianinho”. Fale sobre essa sua experiência nesses trabalhos e o prazer de ter feito parte de uma época que existiam bons atores na “Máquina de Fazer Doidos”.

FABIO TOMASINI: Foram pequenas participações. No Direito de Nascer interpretei o papel de Albertinho Limonta, num flashback da história. Uma curiosidade: fui apresentado para o papel pela grande Lisa Negri e para poder vivê-lo, tive que ter meus cabelos escurecidos pelo cabeleireiro da emissora (Arnaldo Moscardini), o que causou um verdadeiro drama em minha casa. Em Nino o Italianinho, interpretei um vizinho da Vila onde morava Dona Santa (Miriam Muniz), e contracenei com outro garoto ruivinho (Flamínio Fávero). Foram pequenas participações, mas abriram o caminho para minha carreira como ator. Além de me possibilitar conhecer atores, como Sérgio Cardoso, Maria Della Costa, Dina Lisboa, Elizabeth Hartman, Bibi Voguel, Juca de Oliveira, Lima Duarte, Dirce Migliaccio, Lima Duarte, Laura Cardoso e tantos outros.  Também pude conhecer diretores como Geraldo Vietri, Bejnjamim Cattan, Cassiano Gabus Mendes.

Você fez uma participação nos filmes “Gaijin”, de Tizuka Yamazaki, e “Pixote”, de Hector Babenco, isso, na época, te trouxe certo reconhecimento? Como era trabalhar com esse saudoso diretor em um filme que acabou se tornando um marco em nossa história?

FABIO TOMASINI: Pixote foi um filme que também abriu portas. Interpretar o filho da viúva interpretada por Beatriz Segall, foi uma honra. Principalmente pelo enorme sucesso que o filme fez internacionalmente.  Em Gaijin interpretei um imigrante italiano e confesso que adorei fazer um filme de época.




Atualmente, você encabeçou o elenco do longa-metragem “O Diário de Um Exorcista - Zero”, conte como foi atuar num gênero, o suspense sobrenatural, tão pouco explorado no Brasil.

FABIO TOMASINI: Muitos amigos tentaram aconselhar sobre os perigos de fazer um filme do gênero terror. Confesso que adorei fazer o filme, participar de cenas muito fortes e intensas. E confesso que o resultado do trabalho foi surpreendente. O filme tem sido considerado o melhor filme do gênero terror, realizado no Brasil. O convite foi feito muitos anos antes de começar a ser realizado. Conheci o diretor Renato Siqueira pelo Orkut (hoje já extinto). O filme começou  a ser rodado quase três anos depois do convite. A princípio fui chamado para interpretar o papel do Padre Pedro Biaggio. O papel que acabei interpretando era destinado ao excelente ator Ewerton de Castro, que acabou mudando-se para Miami e abriu mão do papel. O que para mim foi um golpe de sorte.  Assim acabei assumindo o segundo papel do filme (Padre Thomas Biaggio).  Para contribuir com o trabalho, acabei sugerindo o nome de Lisa Negri,  Olivia Camargo e Vynni Takahashi. Lisa acabou levando também Vininha de Moraes. O filme tem “causado” entre os apreciadores do gênero terror, sendo comparado aos melhores “blackbusters” internacionais.

Já que o assunto aqui é cinema, cite diretores de cinema que você mais admira.

FABIO TOMASINI: Gosto muito de filmes italianos, portanto posso citar Fellini, Rosselini, Scolla, Bertolucci e tantos outros. Mas também curto Spielberg e Coppola.

Entre atores, diretores dramaturgos, quais nomes você considera injustiçados?

FABIO TOMASINI: Polansky,Truffaut, Almodovar. Osmar Prado e Drica de Morais. Polansky, Truffaut e Almodovar, por serem diretores de verdadeiras obras de arte cinematográficas pouco divulgadas no Brasil. Já Osmar Prado e Drica Morais, são, em minha opinião, os dois maiores atores da atualidade; capazes de interpretar com a máxima perfeição quaisquer papéis que lhes são destinados, imprimindo a máxima veracidade em cada um deles, por mais diferenciados que eles sejam. Por isso também os considero injustiçados.

Quais são seus filmes favoritos?

FABIO TOMASINI: Meu filme favorito é a versão completa de "1900" (Novecento), de Bernardo Bertolucci. Mas gosto também de "Cinema Paradiso"; "Cine Splendor";  "Sábado", Domingo e Segunda Feira"; "Um dia Muito Especial", "Roma Cidade Aberta", Rizzo Amaro, e tantos outros do neo-realismo italiano. Como já disse sou grande apreciador do cinema italiano, Mas incluo nessa lista o genial "Cerimônia De Casamento", de Robert Altman.




Fale do seu dia a dia, como você sobrevive no mercado de trabalho.

FABIO TOMASINI: Trabalho com dublagens. Dirijo e dublo quase de tudo. Documentários, longas metragens, e desenhos. Tenho em minha lista de personagens que dublei: Kami Samá (de Dragonball), Cavaleiro de Cristal ou Mestre Cristal (de Cavaleiros do Zodíaco), e Krancky ( o rabugento macaco velho de Donkey Kong). Além de tantos atores e de outros tantos filmes.

Tenho dois fatos a contar sobre dublagem: um dia assistindo a RAI, vi uma entrevista de Maria Villani Scicollone (irmã de Sofia Loren), ao ser argüída por uma entrevistadora que era aspirante a atriz, declarou que tinha sido cunhada de um dos maiores produtores cinematográficos do mundo (o grande Carlo Ponti), e que ele costumava dizer que para ser um grande ator ou atriz, a pessoa deveria saber dublar bem; que a dublagem era uma grande escola de interpretação, formadora de grandes atores. Infelizmente é um trabalho injustiçado e criticado. Embora a dublagem brasileira foi sempre incluída no “ranking” das três melhores do mundo (Brasil, México e China) Tem mais: numa novela em que atuei, algumas vezes, com a sensacional Dona Fernanda Montenegro, ela, quando soube que eu dublava, disse para a Vera Holtz: "Eu tiro o chapéu para quem dubla". Uma vez eu tive que dublar Jeane Moreau, no filme JOANA FRANCESA, levei um mês para concluir o trabalho. Tinha que falar português com sotaque francês e sincronizar as falas. Confesso que foi muito difícil".

Atualmente, você desenvolve algum projeto pessoal ou aguarda convites para trabalhar?

FABIO TOMASINI: Tenho dois, mas estou proibido de revelar.

Revele qual pergunta gostaria que lhe fizesse numa entrevista e que ainda foi feita, até então.

FABIO TOMASINI: “Qual a importância das artes cênicas, para o desenvolvimento de um mundo melhor?” Na verdade, desde que estudei teatro com Alberto D’Aversa, aprendi que nós, atores, somos o espelho da realidade. O público deve ver, refletido em nossos personagens, a sua própria realidade. Devem rir de seus defeitos e refletir muito sobre suas próprias atitudes. Devemos ter cultura suficiente para não cometermos erros, pois servimos como paradigmas. E assim devemos contribuir para melhorar as qualidades das pessoas, procurando imprimir ao mundo melhores qualidades.




PARA SABER MAIS SOBRE O ATOR:

ASSISTA, AQUI O LONGA-METRAGEM "O DIÁRIO DE UM EXORCISTA - ZERO", RECENTEMENTE LANÇADO EM DVD E BLU-RAY PELA EUROPA FILMES:



EM SEU PROGRAMA DE TV, RONNIE VON INDICA "O DIÁRIO DE UM EXORCISTA - ZERO", LIVRO E FILME:

 

RONNIE VON ENTREVISTA FABIO TOMASINI:





ENTREVISTA COM FABIO TOMASINI:







SITES: