sábado, 25 de novembro de 2017

PAUL NEWMAN - UM ATOR CLÁSSICO E REBELDE.



  A persona em questão era dona de um porte físico esplendido e um ar de gozador apoiado por límpidos olhos azuis. Mesmo na época em que completava 70 anos de idade, ele, como ator, era mais ativo do que nunca. Na década de 1950, muitos o comparavam  a Marlon Brando. Quando atravessou quatro décadas de ofício, a crítica se rendeu, o público ampliou a idolatria (principalmente o feminino) e o próprio astro descobriu que tinha luz própria.
  Nos anos 1990, Paul Newman causava inveja a Marlon Brando que até então se considerava (e era considerado) a maior aquisição do cinema da segunda metade do século XX. La Newman, na última década do século XX, já podia gozar do status de lenda viva. Sua atuação em "O Indomável", lançado em 1995, embora não tenha levado a estatueta do Oscar para casa, foi aplaudida em todo o mundo. Porém temendo perder a coroa, o então infalível e também lenda viva Marlon Brando decidiu, nesta época, que, mesmo ultrapassando os 70 anos de idade, era hora de voltar às telas. Brando não hesitou em trabalhar ao lado de um recém descoberto jovem talento, Johnny Depp que, em algumas atitudes rebeldes em nível reciclável, lembrava James Dean. Este, por sua vez, era antigo rival de Brando e Newman, mas infelizmente teve carreia interrompida ao morrer em um acidente automobilístico em 30 de setembro de 1955. O curioso de tudo isso é que foi justamente com o falecimento de James Dean que as oportunidades se abriram diretamente para Paul Newman que, até esse momento, tinha apenas amargado fracassos como sua estreia em "O Cálice Sagrado / The Silver Chavice", lançado em 1954. Pior, Newman colecionava derrotas nos testes de elenco. Ele havia perdido o papel principal de "Vidas Amargas / East of Éden" (1955) para o já mencionado James Dean, porém, por ironia do destino, ocupou o lugar do ídolo morto em "Marcado Pela Sarjeta" / Somebody Up There Likes Me" (1956), um filme dirigido por Robert Wise. Dean estava contratado para interpretar o lutador de boxe Rocky Graziano tão logo encerassem as filmagens de "Assim Caminha a Humanidade / Giants (1956). No entanto, a morte prematura de James Dean, aos 24 anos, tinha deixado um vazio a todos que apreciavam o seu estilo de interpretação rebelde e juvenil, afinal... Marlon Brando era o selvagem, porém - "adulto", Montgomery Clift já passava dos 35 anos e, portanto, caberia ao então jovem Paul Newman a tarefa de perpetuar o novo estilo jovem de ser e de interpretar no cinema. Ele tinha 27 anos quando deu as caras em Nova York, vindo de Yale, em companhia da esposa Jackie (ou Jacqueline Witte, que estava casada  com ele desde 1949) e do filho pequeno (Alan Scott Newman). O Actors Studio vivia sua época de ouro e era passagem obrigatória para todos os atores que queriam ser respeitados pela crítica. Nessa escola de Arte Dramática os professores ensinavam "O Metódo" (inspirado em Stanislavsky) em cursos  doutrinados por mestres como Elia Kazan e Lee Strasberg.  E Paul Newman aproveitou muito desde quando se tornou um dos escolhidos. Por essa escola, passaram figuras que se consagrariam em Hollywood: Rod Steiger, Julie Harris, Geraldine Page, Warren Beatty, Shelley Winters, Eli Wallach, Maureen Stapleton... Quanto a James Dean, Marlon Brando e Montgomery Clift... Bem, estes já haviam se consagrado. Anos depois, Newman confessaria que, como ator, devia tudo ao Actor's Studios e a paciência de Lee Strasberg.
  É de conhecimento público público que o artista norte-americano mais desejado, nas décadas de 1950 e 1960, se interessou por teatro para fugir dos negócios da família. Ser ator era uma feliz alternativa para um modo de vida que não significava nada para sua esposa. Sua chaga a Nova York se deu por causa da venda da loja do seu pai, pois o velho havia morrido. O jovem Paul Newman ignorou o diploma de economia e após ter ingressado na Companhia Teatral de William Bay (Winsconsin), juntando-se aos Woodstock Players, e participando de mais de dezesseis peças, no momento, o negócio era mesmo tentar a televisão. Sua boa aparência e seus bons contatos resultaram num papel na novela "The Aldrich Family".  A atuação segura e voz bem modulada chamou a atenção dos executivos do mundo do cinema. Tinha algo especial nele. Era o que viam, de imediato.
  Em 1953, durante os ensaios e representações da peça teatral "Pic Nic", que teria um sucesso extraordinário de crítica e de público e ainda abocanharia o prêmio Pulitzer, Paul Newman conheceu a atriz estreante Joanne Woodward (nascida em 1930). O envolvimento entre os dois jovens aspirantes ao estrelato logo se transformaria numa profunda amizade - e, mais adiante, num affair que resultaria num sólido compromisso.  Com o prestígio obtido pela peça "Pic Nic", a Warner lhe propôs 1 mil dólares por semana para estrear no cinema. Sua estreia, em "O Cálice Sagrado / The Silver Chavice" (1954), ao lado de Pier Angeli seria desastrosa, já comentada no início deste texto. Newman acusou que tal projeto se tratava do pior filme feito na década de 1950. O fracasso comercial o traria de volta aos palcos de teatro, mas o contrato - um tanto a contragosto - de estrelar dois filmes por ano continuaria valendo. De volta a Hollywood, seu novo filme "Deis é Meu Juiz / The Rack" (1956) , acabaria suspenso pelo próprio estúdio, somente com o êxito de "Marcado pela Sarjeta" / Sarjeta Somebody Up There Me", o lançamento seria aprovado. Para entrar na pele do personagem Rocky Graziano  aprendeu a lutar boxe com vários profissionais, além de conviver duas semanas com o próprio biografado. Com o personagem do filme sua popularidade aumentou e a crítica  creditou-lhe o respeito definitivo. Nessa época, Paul Newman já era pai de três filhos: Scott, Susan e Stephanie. O seu casamento não ia bem e sua atenção por Joanne Woodward estava num nível incontrolável (mas ainda contando com sua descrição). A questão era dúbia, pois o astro tinha que ser só "um" para duas mulheres: Preservar o casamento ao qual queria ser fiel e se aproximar cada vez mais da jovem pela qual se sentia destinado a ficar para sempre. Foi nas filmagens de "O Mercador de Almas / The Long, Hot Summer" (1958) que Paul Newman e Joanne Woodward assumiram por final seus desejos amorosos para se casarem em Las Vegas, em 1958. Iniciava-se uma época dourada para a vida de ambos. Joanne tinha ganho, em 1957, o Oscar de Melhor Atriz por seu desempenho em "As Três Faces de Eva / Three Faces of Eve". Já "O Mercador de Almas / The Long, Hot Summer" daria a Newman o Prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes em 1958. Pela primeira vez na história, um ator americano se banharia com a Palma de Ouro. A revista Time definiu a atuação de Paul Newman como algo que não ficava nada a dever ao monstro sagrado Orson Welles, co-astro do filme. Daqui para frente, Sir Newman e esposa fariam parceria em várias produções e seriam comparados ao casal Spencer Tracy & Katherine Hepburn.



  Sua interpretação em "Gata em Teto de Zinco Quente / Cat on a Hot Tin Roof " (1958), de Richard Brooks, daria início a primeira de suas sete indicações para o Oscar. Somente três décadas depois, Newman, já na terceira idade, receberia seu primeiro prêmio e, provavelmente, último troféu, por "A Cor do Dinheiro / The Color of Money" (1986), continuação de "Desafio à Corrupção / The Hustler (1961), onde fora jovem astro. Na tal continuação, ele dividia o estrelato com o então mega astro Tom Cruise. Como se sabe, em 1995, Tom Hanks lhe tirou a chance de ser pela segunda vez o Melhor Ator da Academia deste ano.
  Recuando para 1972, quando Marlon Brando recusou o segundo Oscar mandando uma índia fake (na verdade, uma atriz profissional) na noite de cerimônias. Quando ganhou o seu prêmio em 1986, Paul Newman simplesmente ficou em casa. Mas o cacife de astro permaneceria sempre elevado. Tinha qualidade que era inabalável tal como um selo de garantia. Bastava o nome de Paul Newman constar nos cartazes de cinema para as filas aumentarem ao redor do quadra. Essa era a sua situação  no final dos anos 1950. Comédias românticas eram o seu forte seja em "A Delícia de Um Dilema / Rallys Round the Flag Boys" (1958) ou em "O Doce Passaro da Juventude" / Sweet Bird of Youth" (1962), ou mesmo em thrillers do naipe de "Happer, O Caçador de Aventuras / Happer, The Moving Target" (1966), e "Cortina Rasgada / Torn Curtain" (lançado no mesmo ano). Vale lembrar que este último foi dirigido por Alfred Hitchcock, o Rei do Suspense. Antes, em "O Indomado / Hud" (1963), de Martin Hitt, sua dedicação foi considerada "integral".


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