domingo, 31 de dezembro de 2017

DAVID CARDOSO POR ELE MESMO

                                                                                       
 

  Ator, músico, produtor e cineasta, não necessariamente nessa ordem, David Cardoso foi o protagonista de muitas histórias. Muito antes de ser o protagonista dos filmes que atuou ou dirigiu, independente das crises que nosso país atravessou, entre elas, a crise de identidade, revelou-se uma espécie de Highlander caboclo. Lastimavelmente vivemos em um país subdesenvolvido. Nunca o povo subestimou tanto sua própria história quanto em nosso passado recente, preferindo, assim, consagrar as produções estrangeiras ao invés do cinema nacional. Apesar da desvantagem financeira de competir com produções milionárias, David Cardoso, nos anos 1970, chegou a ser uma das maiores bilheterias da história, desbancando muitos blockbusters. "Amadas e Violentadas" tornou-se o filme mais lucrativo do ano de seu lançamento (leia-se 1976). A receita? Suor, trabalho e perseverança. O paradoxo? Parte da população não era assim tão contra o cinema brasileiro (mesmo as pornochanchadas) ou então não teria comparecido em peso nos cinemas. Lembrando, também, de outro cineasta, Bruno Barreto, com "Dona Flor e seus Dois Maridos", alcançou a marca de seis milhões de espectadores. Quanto ao intrépido David Cardoso, eu diria que ninguém melhor que ele para nos repassar, através de suas memórias, tudo o que aconteceu com sua carreira, mesmo que de forma sintética. Afinal, a velocidade das ações da Era Digital torna o tempo do entrevistado muito curto, mas nem por isso culturalmente irrelevante. Mesmo assim, com tanta gama de opções em outros sites de entretenimento, o leitor encontrará, nesta entrevista exclusiva, muitas peculiaridades pertinentes, porque, o objetivo principal da "Bíblia do Cinema" é documentar as grandes personalidades históricas da Sétima Arte.
  Com vocês, sem maiores enrolações, o nosso ilustre entrevistado deste mês, abrindo o seu coração e mente aos cinéfilos que lhe prestigiam oportunamente. Como sempre coloco aqui perguntas e respostas num formato de roteiro de cinema.
  Luz, câmera, ação!


                                 

                     




                                                                A ENTREVISTA



EMERSON LINKS

Naturalmente, vamos começar falando da sua carreira antes de idealizar o primeiro longa-metragem do seu currículo como ator. Você sempre quis realizar esse tipo de trabalho em cinema ou tinha em mente se aprimorar em outro segmento?

DAVID CARDOSO

Sempre o cinema. Eu me espelhava nos filmes e atores americanos. Poucos nacionais. Meu sonho era vencer nos Estados Unidos. Infelizmente não deu, embora alguns filmes meus por lá foram exibidos.

EMERSON LINKS

Quais são suas maiores lembranças sobre a história do cinema? (não necessariamente suas influências).

DAVID CARDOSO

Pra você ter uma ideia, o filme "Mogambo", eu vi 26 vezes numa única semana no Cine Metro, na Avenida São João, em São Paulo.

EMERSON LINKS

Quais são suas influências no cinema, tais como gênero de filme, atores e diretores?

DAVID CARDOSO

Meu gênero preferido é o western. Os melhores: "Matar ou Morrer", "Os Brutos Também Amam", "Meu Ódio Será a Sua Herança", "Rastros de Ódio" e mais uma infinidade.

EMERSON LINKS

Você já pensou em seguir a carreira artística, mesmo em esferas diferentes, do tipo "vou me experimentar como músico" ou mesmo algo do nível de um jornalista inserido no circuito cultural?

DAVID CARDOSO

Sou músico (acordeon). Fiz quatro anos de conservatório. Trabalhei durante um ano na Folha de São Paulo. De vez enquando toco tangos e chamamês.

David no esplendor da juventude.



EMERSON LINKS

Você poderia nos contar como foram os seus primeiros passos na carreira, antes de se consagrar comercialmente? (Exemplo: Antes dele se consagrar participou de películas como "O Lamparina" (1963) e "Noite Vazia", "Vidas Estranhas" e "Meu Japão Brasileiro" (1964).

DAVID CARDOSO

Trabalhava na Folha fazendo pesquisa de mercado e dividindo um PF com um colega, Fernando Peludo. Ele me disse que conhecia o Mazzaropi. Quase desmaiei. Fez um bilhete que tenho até hoje me apresentando ao humorista. Abandonei os estudos de cursinho de Direito. Mais tarde, estudei até o terceiro ano e em cinco dias estava na fazenda de Santa, em Taubaté, para o início das filmagens de "O Lamparina". Saudades!



EMERSON LINKS

Você atuou em "Corpo Ardente" (1966) e "Férias no Sul" (1967). Estes filmes despretensiosos que entretinham a população sem a apelação televisiva de hoje, reforçavam a imagem de galã que você desfrutaria ou meramente foi um momento de construção de perfil estético de trabalho?

DAVID CARDOSO

Trabalhava por trabalhar, queria aprender de tudo. Parte técnica, artística, sem nunca reclamar de nada. Era jovem. Dormia em qualquer lugar, comia o que me fosse ofertado. E tentava economizar para comprar o meu primeiro apartamento em São Paulo.



EMERSON LINKS

Bom, como todos sabem (ao menos os mais chegados), estou realizando, também, A BÍBLIA DO ROCK, projeto no qual entrevistei nada menos que 1.982 artistas, produtores, jornalistas e bandas. Nada mais natural eu perguntar a você, agora para a BÍBLIA DO CINEMA (este meu outro projeto em curso), qual foi sua sensação de encarnar um vilão em "Agnaldo Perigo à Vista" (1969) e também de fazer parte do longa-metragem "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura", que tinha toda uma trilha sonora de sucessos e que marcou a jovem guarda no cinema?

DAVID CARDOSO

Fiz "Roberto Carlos a 300 Km por Hora". Era o produtor executivo (diretor de produção). Nunca escolhi papéis. Meu negócio era participar daquilo que eu mais amava: fazer cinema. Qualquer coisa estava de bom tamanho pra mim.





EMERSON LINKS

Quais foram suas experiências nos bastidores desta época, onde ídolos genuínos ocupavam o lugar que hoje são ocupados por estrelas fabricadas sem qualquer pingo de talento vocal? Imagine só. Você esteve num filme de Roberto Carlos, viveu intensamente os anos dourados do rock e de um momento de radicalização política e cultural. Em contrapartida tinha que tolerar a rivalidade de artistas e intelectuais de esquerda X astros de direita (ou ícones apolíticos). Em resumo, que memórias você tem desse período que possivelmente não irá se repetir na história do cinema?

DAVID CARDOSO

Fiz três vezes o Programa do Jô Soares. No último, nos anos 1990, disse que com relação ao cinema, tinha saudades do regime militar. E olha que fui um dos mais prejudicados. Corte de mais de dez minutos em cada produção. Mas os filmes foram exibidos. Existia Lei de Obrigatoriedade. Nos tempos atuais a inversão de valores é muito grande. O cinema acabou a não ser para os premiados com a Leis de Incentivo. Cambada de aproveitadores. Parabens, Mazzaropi, Anselmo Duarte, Zé do Caixão, David Cardoso. Isso aqui acabou.



EMERSON LINKS

Ainda falando sobre esse período efervescente da nossa cultura, a telenovela brasileira engatinhava. Você estreou em "O Grande Segredo" (1967). Como surgiu o convite para esse trabalho?

DAVID CARDOSO

Fui tentar TV. Participação pequena, mas que me fez um pouco mais notado. Fiz oito novelas. Sendo quatro como galã. Mas o cinema estava e está em 1º lugar. Como dizia Chico Anísio: "Cinema não se faz com Bolivares, guaranis ou reais, cinema se faz com dólares".

EMERSON LINKS

Enfim, você finalmente viveu um primeiro grande papel em uma obra literária como foi o longa-metragem "A Moreninha" (1970), recentemente lançado em DVD e Blu-ray. Como você foi escolhido para estrelar esse trabalho? Os atores da época eram realmente escolhidos a dedo por serem "bons" ou existiam outros pré-requisitos no processo de escolha?

DAVID CARDOSO

Esse filme me consagrou. Sucesso no Brasil todo e parte do mundo. Glauco Laurelli (diretor) e seu sócio, Luiz Sérgio Person, sentiram que eu tinha o perfil. Não foi fácil. Sou Jacu, halterofilista. Passei dois meses ensaiando com a Jura Otero e Sonia Braga. Parece que o resultado foi satisfatório. No outro ano, participei de quatro filmes. Parecia que eu estava consagrado.



EMERSON LINKS

Como foi a sua experiência na comedia "Os Maridos Traem... As Mulheres Subtraem"?

DAVID CARDOSO

Divertidíssima, ótima equipe artística e técnica. Comedia é sempre bom fazer. O ambiente era dos melhores. Grande Massaini.

EMERSON LINKS

Você trabalhou também com grandes comediantes como Dercy Gonçalves, Grande Otelo, Zilda Cardoso e Dedé Santana em "Se Meu Dólar Falasse" (1970). Qual foi a sensação de fazer parte disto? Você já tinha consciência de estar trabalhando em algo que seria reconhecido como clássico no futuro?

DAVID CARDOSO

Não imaginava isso. A sensação de estar com esses monstros sagrados era importante pra minha carreira. Ficava atento a tudo até porque fazia parte da produção. Carlos Coimbra, grande artesão, não tinha pulso para controlar alguns atores indisciplinados. O filme fez relativo sucesso.



EMERSON LINKS

No ano seguinte, você atuou em "A Herança". Comente sua participação nesta produção.

DAVID CARDOSO

Ozualdo Candeias, talvez tenha sido o mais intuitivo diretor com quem trabalhei em vários filmes. Era tudo mais fácil. Não havia dinheiro. Pedia-se tudo, de tudo pra todos. Empréstimos de carros, comida, refrigerante, etc. Uma loucura, mas tudo feito com muito amor, retidão, dedicação. Experiência inesquecível.

EMERSON LINKS

Ainda em 1971, você foi ator do filme "Quando as Mulheres Paqueram", onde a atriz Dilma Lóes, nossa entrevistada de meses atrás, marcou presença, dividindo cenas com a não menos bela Sandra Barsotti. Essa comedia tinha uma temática, no meu entender, avançada para a época, uma vez que a sociedade era machista e as mulheres tinham menos conquistas que hoje. Quais foram suas impressões sobre esse trabalho?

DAVID CARDOSO

Grandes profissionais. Não havia estrelismo. Era amor ao cinema. Muito respeito. Apaixonei-me por Sandra. Linda, ótima atriz. Uma graça. Um dos poucos filmes que fiz no Rio.



EMERSON LINKS

Em 1972, você fez "Corrida Em busca do Amor". Comente esse filme, se possível, uma vez que as comedias românticas passaram a serem taxadas de pornochanchadas, um rótulo incomodo (para alguns realizadores) e que se prolongaria por décadas. Qual visão você tinha deste trabalho na época?

DAVID CARDOSO

Fui o galã dessa aventura, comedia rodada nos arredores de São Paulo. Fiquei amigo do Carlão Reinchenbach. Bebíamos e nos divertíamos muito. Também com os outros cantores e humoristas.

EMERSON LINKS

Em "Caiangangue, A Portaria do Diabo", você teve a oportunidade de trabalhar em um faroeste, o que era incomum para a época. Como foi ser dirigido por um grande profissional como Carlos Hugo Christensen e também dividir cena com o emblemático ator Sérgio Britto?

DAVID CARDOSO

Foi um dos filmes mais difíceis em todos os sentidos de que participei. Eu era o diretor de produção e ator principal. Na minha cidade Maracaju - MT (agora MS) não tinha luz, asfalto, telefone, nada. Só a estrada de ferro NOB. Carlos foi um dos mais importantes diretores, tanto na Argentina como no Brasil. Filmes esteticamente perfeitos. Orgulho-me em afirmar que Caingangue foi o maior faroeste já produzido na América do Sul. Elenco afinadíssimo. Anselmo Duarte elogiava a produção todas as vezes que me encontrava. Infelizmente, essa produção de Roberto Farias não foi sucesso, embora os críticos na época deram nota máxima. Sérgio Britto tem uma performance inesquecível. Cenas de batalha (sem tecnologia) nunca feitas. Uma obra prima.

EMERSON LINKS

No longa "Caçada Sangrenta", você viveu outro momento onde a aventura humana predominou? Quais são suas principais memórias sobre esse momento?

DAVID CARDOSO

Contratei o Ozualdo Candeias para dirigir essa minha primeira produção para a DaCar (David Cardoso) no meu estado MT (1974) percorremos oito cidades, cerca de 5 mil km. Uma aventura. Hoje cultuada. Firmei-me como produtor.



EMERSON LINKS

De repente, surgiu o filme "A Ilha do Desejo" (1974) e que possivelmente reforçou o que a crítica ou determinados formadores de opinião chamavam de pornochanchada. Isso te incomodava? Era relevante ter reconhecimento de outra forma, digamos artisticamente, ou isso era mera consequência?

DAVID CARDOSO

Nunca me importei com crítica de qualquer espécie. "A Ilha" foi um acontecimento. Lancei o diretor Jean Garret. Artesão competente e criativo. Fez o roteiro com o meu mentor Ody Fraga. Depois de sua morte eu praticamente parei. Sucesso absoluto. As filas no Cine Marabá (SP) viravam a esquina São João. Em três meses de exibição, o filme já estava pago.

EMERSON LINKS

Em "Sedução" (1974), você dividiu cena com os grandes atores Ney Latorraca e Dionísio Azevedo, além da atriz Sandra Brea, que despontava para os holofotes. Como era o cinema de Fauzi Mansur? O que te atraiu neste projeto?

DAVID CARDOSO

Está entre os cinco melhores filmes que fiz nestes 53 anos de carreira (80 produções: longas, curtas, médias, documentários, filmes institucionais, etc - 34 da minha produtora. Fauzi Mansur, o diretor, acertou em cheio. "Sedução" foi premiado em vários festivais. Eu me torne galã mais cobiçado do Brasil. Isso por mais de 15 anos. Honestamente. Recusei vários papéis. Muitas vezes por estar estrelando uma novela. Participei de oito.



EMERSON LINKS

Segundo informações oficiais, "Amadas e Violentadas" (1976), foi uma das dez maiores bilheterias entre os filmes nacionais do ano de seu lançamento. Quais foram os ingredientes desta película responsáveis por sua popularidade? Foram as atrizes em destaque, o roteiro ou o contexto oferecido como alternativa de entretenimento momentâneo?

DAVID CARDOSO

Primeiro o roteiro caprichado de Ody Fraga. Produção nível "A". Ótimos atores. Estória convincente. Ótima direção de Jean Garret. Superou-se. Meus sócios José Ermirio de Moraes Filho, Gilberto Adrien, Sergio Mellão, Guilherme Mellão ficaram satisfeitos. Eu não parava de trabalhar.



EMERSON LINKS

Reza a lenda que muitas atrizes de sucesso ou mesmo fenômenos fugazes foram lançadas por você como diretor ou mesmo na fase quando ainda era ator influente. Você se sentiu gratificado nesse sentido? Exemplos: Vera Fischer, Sandra Brea, Fernanda de Jesus, Helena Ramos, Zélia Diniz, Márcia Real, Marlene França, Zaira Bueno, Zilda Mayo, Nicole Puzzi, Patricia Scalvi, Matilde Mastrangi.

DAVID CARDOSO

A maioria eu lancei. Outras indiquei para diretores e produtores. Ótimas profissionais. Todas. Chegavam no horário sempre colaborando no projeto. Não havia reclamação. A maioria injustiçadas. Coisas  de Brasil. Agradeço de coração a essas amigas pela ajuda.



EMERSON LINKS

Em "Possuída pelo Pecado" (1976), além de trabalhar com belas atrizes, você voltou a dividir cena com o cantor Agnaldo Rayol. Essa retomada foi casual ou foi um tributo por você ter sido vilão em um filme de sucesso dele?

DAVID CARDOSO

Agnaldo Rayol, grande amigo, padrinho de meu filho James, ator de primeira e um dos maiores cantores deste Brasil, sempre me apoiou e ajudou. Devo muito a ele. Colaborou na produção cedendo sua bela mansão para várias sequencias.

EMERSON LINKS

Daí, veio finalmente seu primeiro filme como diretor, "Dezenove Mulheres e Um Homem" (1977). A quem você creditava tal oportunidade de operar em outra função, além de ser ator?

DAVID CARDOSO

Tomei coragem e fiz o filme que mais me rendeu financeiramente pois não tinha sócios. Fiz o argumento, Ody roteirizou, selecionei elenco e equipe técnica e novamente filmei no meu estado MS. Até agora fiz sete filmes de longa-metragem e média por aqui. Sofri muito. Era o ator principal, produtor e diretor com mais de quarenta pessoas em volta. Com o sucesso, dois meses em cartaz no centro de São Paulo, comprei outro avião (sou piloto) fazenda no pantanal e diversos imóveis.



EMERSON LINKS

Você voltou a dirigir em "Bandido, Fúria do Sexo" (1978). Como foi esse trabalho? Qual foi a repercussão?

DAVID CARDOSO

Fiz às pressas. Em 20 dias. Não aconteceu. Coisas da Sétima Arte.






EMERSON LINKS

Em 1979, você teve um regresso a TV após um longo hiato. Como foi a sua participação na novela "Cara a Cara", da TV Band?

DAVID CARDOSO

Sucesso absoluto. Boa direção e um elenco sem precedentes. Era o galã. Mais Fernanda Montenegro, Fulvio Stefanini, Luiz Gustavo, Débora Duarte, Antonio Marcos e vários outros talentos. Dez meses no ar. Sucesso na Itália.

David Cardoso e Débora Duarte na novela.



EMERSON LINKS

Você logo voltou (novamente) em um filme literário, "O Guarani" (1979), mas apenas como ator, deixando o roteio a cargo de Ody Fraga e a direção nas mãos de Fauzi Mansur. O que você achava desse filme na época e como acredita que ele repercute nos tempos atuais?

DAVID CARDOSO

Infelizmente não foi sucesso. Produção caprichada, mas não caiu no gosto popular. Talvez precisasse ser revisto. Difícil realização. Problemática.

O longa produzido antes de Norma Benguell.



EMERSON LINKS

"A Noite das Taras" (1980) foi outro filme dirigido por você e que lançou a então bela Matilde Mastrangi. Quais foram suas impressões sobre este filme?

DAVID CARDOSO

Não foi o lançamento da Matilde mas seguramente o que a fez conhecida em todo o Brasil. Bati todos os recordes naquele ano. O filme ficou 8 semanas em cartaz no Cine Marabá, no centro de São Paulo. "O Poderoso Chefão" ficou 4.



EMERSON LINKS

Um novo momento para você foi o de ser o protagonista da novela "O Homem Proibido", lançada pela Rede Globo em 1982. Você se recorda deste trabalho que afirmavam ter vínculo com sua imagem no cinema? Que comentários você poderia tecer à respeito?

DAVID CARDOSO

Essa novela foi sucesso na Itália. Tenho todos os capítulos. Foi interditada pela censura na estréia. Numa determinada sequencia eu tirava a camisa. Foram a Brasília e tudo se resolveu. Quanta hipocrisia neste país. Neste ano fiz 29 bailes de debutantes pelo Brasil.



EMERSON LINKS

Você já pensou em se associar a outros talentos, produzindo histórias, projetos promissores ou pretende parar por aí?

DAVID CARDOSO

Como produtor parei completamente. O último foi "Sem Defesa", em 2015. Mas estou aberto a novos projetos.



EMERSON LINKS

Foi uma surpresa para parte do público saber que no resto do país, conforme aponta a matéria de abril deste ano no blog sobre as variadas produções independentes que não recorreram a Lei Rouanet e editais. Surpresa, pergunto, na questão de os temas serem ricos e urgentes, afinal, diferentemente do que acontece no mainstream só temos a opção (ultimamente) de assistir filmes com comediantes de stand up (Paulo Gustavo, Leandro Hassum e congeneres), atores da Globo protagonizando dramas sobre casais que são fracassados no amor ou mesmo fórmulas demasiadamente desgastadas. Ninguém quer inovar?

DAVID CARDOSO

Quase tudo lançado pela Globo vira sucesso, inclusive com relação à música. Se me levarem para eu apresentar um jornal diário com certeza seria sucesso. Manda no país.

EMERSON LINKS

Você pretende assistir essas produções independentes citadas no blog A BÍBLIA DO CINEMA, como é o caso do longa O DIÁRIO DE UM EXORCISTA, de Renato Siqueira, que assim como você é ator, produtor e diretor ao mesmo tempo? Ou como Evandro Berlesi, do Rio Grande do Sul, que criou o grupo de cinema Alvoroço? Ou mesmo Dimas Oliveira Junior, através da Oficina Rosina Pagan, que realiza filmes fora do circuito oficial? (Tenho observado ao entrevistar todos os diretores, aqui, que não há união - quando deveria haver. Não há intercâmbio - quando o certo seria isso (video reportagens anteriores do meu blog). Obs. O próprio entrevistador é cineasta e está tocando projetos como os já mencionados A BÍBLIA DO CINEMA, A BÍBLIA DO ROCK e O AMOR NOS TEMPOS DA INTERNET. Todos estes livros e longas-metragens devidamente registrados no EDA e que estão em curso de pré-produção. Enfim, você pretende assistir os citados, para se atualizar a nova realidade e passar um pouco da sua experiência através de parcerias de diferentes gerações?

DAVID CARDOSO

Não tenho interesse. A tecnologia me atropelou. Sou piloto de aeronave e não sei colocar horas num relógio digital. Não tenho celular e este meu aparelho está péssimo. Mas estou à disposição para interagir com a moçada, ensinando e aprendendo com os mesmos.



EMERSON LINKS

Sobre a polêmica em torno da extinção do Ministério da Cultura e CPI da Lei Rouanet, o que você teria a declarar momentaneamente?

DAVID CARDOSO

Assim como a Embrafilme foi extinta para desespero de alguns produtores, diretores, ladrões do dinheiro público, deveriam fechar tudo, ressuscitar Mazzaropi ou Anselmo Duarte para dirigir um órgão honesto para lançamento de novos valores. O modelo vigente não serve, ou melhor, serve para aqueles que não prestam contas.

EMERSON LINKS

Fale um pouco de seu trabalho no dia a dia, como sobrevive no mercado e planos para o futuro.

DAVID CARDOSO

Tenho vários projetos prontos. Se existir algum maluco produtor interessado, tudo bem. Viajo por todo Brasil interagindo com novos interessados na Sétima Arte e também exibindo meus três últimos filmes. Não tenho parado na minha área pantaneira. Passo quando muito três dias.

Em tempo de campanha política.


EMERSON LINKS

Quais são suas influências como diretor?

DAVID CARDOSO

Não tenho conhecimento. Sou apenas um homem que participou de 80 produções (longas, médias, curtas e documentários, filmes institucionais), 34 da minha produtora DaCar, sem ajuda de leis de incentivo. Sou um bobão. Nunca sofri processo trabalhista por técnicos ou atores. São 53 anos de carreira. Cansei.



EMERSON LINKS

Cite um ou mais injustiçados do cinema brasileiro.

DAVID CARDOSO

Anselmo Duarte, Mazzaropi e David Cardoso.

EMERSON LINKS

Que conselho você daria a um profissional que esteja, agora, iniciando um projeto de cinema, hoje, baseando-se na sua experiência e exemplo como profissional da classe?

DAVID CARDOSO

Não desanime. O sonho nunca acaba. O problema é que, na maioria das vezes, você conclui seu filme e ninguém vai exibi-lo. Se o dinheiro foi seu, paciência. Não há mais leis de proteção como na época do regime militar. Reúna a família, amigos, cineclubes, etc e mostre seu trabalho. Esse nunca vai lhe trair.



EMERSON LINKS

Revele qual pergunta gostaria que lhe fizesse numa entrevista e que ainda não foi feita, até então. Coloque tal pergunta e possível resposta.

DAVID CARDOSO

"Como você gostaria de morrer?" Reposta: "Aos 100 anos tentando transar com uma garota de 18 e sendo assassinado pelo namorado, amante, marido, etc, não dando chance de defesa. Seria a gloria. Na realidade, acredito que dependendo do meu estado de saúde vou repetir o gesto de Hemingway, Getúlio Vargas, Walmor Chagas, sem arrependimento algum. Tive e tenho uma vida repleta das mais variadas emoções.



           





David conferindo a película.

Ao lado do consagrado ator Robert De Niro.


Poster em revista de novelas.


Em 1985, David abordando o temível tema. 


Declaração em tom de desabafo.



FILMOGRAFIA, SEGUNDO O WIKIPEDIA:

Trabalhos como ator de cinema

Trabalhos como ator de TV

Trabalhos como diretor






PARA SABER MAIS SOBRE DAVID CARDOSO, ASSISTA NO YOU TUBE:

Filme: " O Lamparina".

 
Filme: "Noite Vazia" (1964).



Filme: "Férias no Sul" (1967)


Filme: "Agnaldo Perigo à Vista". (1969)

 
Filme: "A Moreninha". (1970).


Filme: "Quando as Mulheres Paqueram" (1971).



Filme: "Caçada Sangrenta" (1973). Creditado no you tube como filme lançado em 1974.

                                          Filme: "Amadas e Violentadas". (1976). Apesar de estar creditado acima como produção de 1975.


Filme: "Corpo Devasso". (1982).



Filme: "Mulher Tentação". (1982)



Filme; "As Seis Mulheres de Adão". (1982).