domingo, 30 de setembro de 2018

ENTREVISTA COM O CINEASTA CLÁSSICO BRÁZ CHEDIAK

  Nascido em 1 º de junho de 1942, em Três Corações, Minas Gerais, cria do Cinema Novo, começou como roteirista de filmes como "Mineirinho, Vivo ou Morto" e "Meu Pé de Laranja Lima" e trabalhou como assistente de direção com o renomado ator e cineasta Aurélio Teixeira, posteriormente foi diretor de atores consagrados em peças teatrais e em filmes realizados entre os anos 1960 e 1980. O decano em questão também se revelou como escritor e atualmente sobrevive em estado de reclusão dedicando-se apenas as causas humanitárias, como por exemplo, preocupar-se com o bem estar dos menores carentes. Embora, ele tenha colocado o cinema em stand by, manteve sua atividade intelectual lançando livros e, eventualmente, aceitando convites de eventos específicos.
  No presente momento, conforme urge a necessidade de registrar memórias em meu projeto em curso, o grande Bráz Chediak sai do seu casulo para conceder uma entrevista exclusiva que, de imediato, divido com vocês. 



EMERSON LINKS:

Naturalmente, vamos começar falando de sua carreira antes de idealizar o seu primeiro longa-metragem como diretor. Você sempre quis realizar esse topo de trabalho no cinema ou tinha em mente se aprimorar em outro segmento?

BRÁZ CHEDIAK:

Sempre, desde criança, eu sabia que faria cinema. Foi uma opção de vida.

EMERSON LINKS

Quais são suas maiores lembranças sobre a história do cinema?

BRÁZ CHEDIAK

As maiores lembranças são dos filmes que assisti (era um cinéfilo) e que me ajudaram a sobreviver a uma vida dura, de filho de operário numa cidade do interior, onde tudo era difícil. Hoje, penso que o cinema pra mim foi uma fuga para um lugar mais seguro, mais bonito.

EMERSON LINKS

Quais suas influências no cinema, tais como gênero de filme, atores e diretores?

BRÁZ CHEDIAK

Assistia a qualquer gênero de filme, portanto tive influências de muitos, muitos filmes e diretores. Mas sempre prestei mais atenção aos diretores e atores stanislavskianos, como Elia Kazan e Marlon Brando, por exemplo. E me apaixonei por John Ford, Alfred Hitchcock, Kurosawa e Fellini, entre dezenas de outros.

EMERSON LINKS

Você já pensou em seguir a carreira artística, mesmo que em esferas diferentes, do tipo "vou me experimentar como algo do nível de um jornalista inserido no circuito cultural"?

BRÁZ CHEDIAK

Dirigi muito teatro, já fiz música, experiência jornalística nunca tive, mas escrevo crônicas, contos e já publiquei um romance. Mas me dediquei mesmo foi ao cinema, foi minha profissão...

Bráz Chediak no auge da juventude. 


EMERSON LINKS

Você poderia nos contar como foram os seus primeiros passos na carreira antes de se consagrar comercialmente?

BRÁZ CHEDIAK

Comecei como ator de teatro, depois ator de cinema ("O Homem que Roubou a Copa do Mundo", de Victor Lima), depois roteirista, assistente de direção, de produção, de montagem, etc, etc. Até que me tornei diretor. Ao contrário de muitos que começam dirigindo, percorri uma longa estrada como aprendiz. Daí, talvez, meu conhecimento e rigor técnico. Creio que todos os jovens devem aprender tudo: de atuar a lançar o filme. Às vezes, até mesmo ver a reação do público: sempre dá pra fazer um ajuste para tirar a monotonia, corrigir um ritmo, etc.

EMERSON LINKS

Como foi a experiência em seu primeiro trabalho de direção?

BRÁZ CHEDIAK

Péssima. Fiz um péssimo trabalho, me preocupei com o ritmo exterior e me esqueci do ritmo interior. Me descuidei da técnica, não dirigi bem os atores... Enfim, fiz uma grossa porcaria.

EMERSON LINKS

Você trabalhou também com grandes nomes como Glauce Rocha, Emiliano Queiroz e Jece Valadão em "Navalha na Carne". Qual foi a sensação de fazer parte disto? Você já tinha consciência de estar trabalhando em algo que seria reconhecido como clássico no futuro?

BRÁZ CHEDIAK

Sempre trabalhei com grandes atores. Além dos que você cita, trabalhei com Lucélia Santos, Nelson Xavier, Milton Moraes, Monah Delacy, José Lewgoy, Madame Morineay, etc, etc, etc.
Quando filmamos pensamos apenas no filme, se se torna um clássico ou não só o tempo dirá. Hoje, "O Navalha, Dois Perdidos Numa Noite Suja, Bonitinha, mas Ordinária", etc, etc, são muito revistos, comentados. Isto é bom. Ajuda as novas gerações a conhecer um pouco de nossa história. E fico feliz quando outros atores os estudam.

O jovem cineasta Chediak.


Jece Valadão e Glauce Rocha em ação.


EMERSON LINKS

O que você achou da nova versão de "A Navalha na Carne", rodada anos depois, na década de 1990?

BRÁZ CHEDIAK

Não vi. Já refilmaram "Dois Perdidos, Bonitinha", etc, mas nunca vi nenhuma refilmagem. Aliás, não vejo nem meus próprios filmes. Sou avesso ao narcisismo, artístico ou não.

EMERSON LINKS

Seu trabalho seguinte foi o longa "Dois Perdidos numa Noite Suja" (1970). Comente suas experiências ao participar desta produção.

BRÁZ CHEDIAK

Foi difícil. O filme foi feito sem nenhum recurso. Às vezes não tínhamos nem o negativo. O filme foi lançado - veja que absurdo - nos mesmos cinemas em que saía "Perdidos na Noite" e isso confundiu o público. Ou seja: houve sabotagem de todos os lados. Mas o filme está aí. As interpretações do Nelson Xavier e do Emiliano Queiroz são maravilhosas. A fotografia do Hélio Silva é ótima, etc, etc.

EMERSON LINKS

Fale sobre a oportunidade que você teve para escrever o roteiro do filme "Meu Pé de Laranja Lima", que fez muito sucesso (principalmente) quando este foi exibido na TV.

BRÁZ CHEDIAK

O Aurélio, meu amigo, excelente e injustiçado diretor, não estava bem de saúde e o Herbert Richards estava com receio dele não conseguir fazer o filme. Encontrei-me, casualmente, com a Gracinda Freire, esposa do Aurélio, e ela me falou das dificuldades, que o roteiro não andava, etc.

Eu havia dirigido "Navalha na Carne" e preparava o lançamento, mas o Aurélio era um grande amigo e fui à casa dele. Conversamos e, no dia seguinte, fui ao estúdio e falei com o Herbert que ia fazer o filme com o Aurélio, que faria o roteiro, prepararia a produção e faria assistência de direção; O Herbert me perguntou se eu ficaria durante toda a filmagem e eu me comprometi em acompanhar todo o filme. Os contratos foram assinados no mesmo dia.

Acabei dirigindo os atores, já que o Aurélio também atuava e não tinha paciência com crianças. Fiquei até o fim das filmagens, da montagem, da sonorização... Enfim... Até o filme ser lançado. Foi um sucesso estrondoso. Fiquei feliz. O Aurélio estava precisando muito e o filme o revigorou. Que grande diretor era o Aurélio.

Capa do DVD, lançado décadas depois do sucesso em 1970.


EMERSON LINKS

Ainda em 1970, quando você dirigiu o filme "Dois Perdidos numa Noite Suja", onde você voltou a trabalhar com Emiliano Queiroz e este se consagrou, dividindo cenas com o saudoso Nelson Xavier. Esse trabalho foi proibido pela Censura Federal? Qual foi a recepção do público, na época?

BRÁZ CHEDIAK

A censura sempre me incomodava. Exigiu o corte de diálogos, mas contornei a situação. Os censores não eram lá muito inteligentes. O filme não foi um sucesso de público ou de crítica. Mas fez sua carreira, pagou-se. Hoje dão mais valor, principalmente às interpretações dos atores que, na época, foram recebidas com ressalvas.



EMERSON LINKS

Em 1971, você fez "As Confissões do Frei Abóbora". Comente esse filme, estrelado por Tarcísio Meira, Norma Benguell, Osvaldo Loureiro e Jacqueline Myrna, e com roteiro novamente co-escrito por Nelson Xavier e Emiliano Queiroz repetindo a parceria como ator.

BRÁZ CHEDIAK

Foi um filme que fiz porque precisava de dinheiro. Minha mulher estava grávida e eu tinha que pagar aluguel, comer, vestir, etc.

A então família Chediak, na época. O bebê é o atual cantor e músico, Yassir Chediak.


BRÁZ CHEDIAK

O Herbert Richers deu todo o apoio. Era um ótimo produtor, mas eu não me esforcei. Foi bom trabalhar com o Tarcísio, com a Norma, com o senhor Loureiro (pai do ator Oswaldo Loureiro, recém falecido) e, também, com a Lia Torá, que pouca gente conhece, que tinha retornado de Hollywood. E com Jacqueline Myrna. Não me recordo do restante do elenco.

A música do Egberto Gismonti é ótima, os atores são ótimos... mas não gostei do meu trabalho. Não fui bom diretor.



EMERSON LINKS

Qual era a sua visão sobre as chanchadas da Atlântida, Herbert Richers e demais produtoras, nos anos 1950 e 1960?

BRÁZ CHEDIAK

Ótimas. Elas atraíam grande público para o cinema brasileiro. Os filmes brasileiros eram os de maior porque não tinham legendas, todos entendiam.



É um gênero que havia em diversos países, mas, aqui, foram desrespeitadas pelos "intelectuais" e alguns "artistas" da época. Mas foram muito importantes. Graças a elas temos hoje um bom panorama de nossos cantores, cantoras, atores e atrizes daquele período. As chanchadas me lembram a frase do Nelson (Rodrigues): "O brasileiro é um Narciso às avessas. Cospe na própria imagem!". E cuspiram nas chanchadas que eram tão amadas pelo público mais simples, mais humilde...

EMERSON LINKS

Como você se via, nos anos 1960, tempos do Cinema Novo?

BRÁZ CHEDIAK

Eu não fazia distinção entre Cinema Novo ou Cinema Comercial. Conhecia todo mundo. Era amigo de quase todo mundo e fazia meu trabalho. Gostava muito de conversar com o Glauber, com o Tanko... O Cinema Novo foi um movimento necessário, mas não eram necessárias as agressões que alguns de seus membros faziam aos que eram chamados de "diretores comerciais". Mas isso faz parte da juventude, quando o cérebro ainda não está formado. Quanto aos filmes, só o tempo dirá.

EMERSON LINKS

Por que, no seu entender, "algumas" comédias românticas passaram a ser taxadas de "pornochanchadas", um rótulo incomodo (para alguns realizadores) e que se prolongaria por décadas. Qual era a visão que você tinha sobre esse gênero na épocaa?

BRÁZ CHEDIAK

O rótulo foi criado para fortalecer a censura, para afastar o público das salas. Usando a palavra "pornô", a censura recrudesceu. O público prestigiou o novo gênero, que não tinha nada de pornográfico. Hoje passam até nas sessões infantis da TV. A pornografia, e cujo rótulo, ainda hoje, usado por alguns de nossos intelectuais quando querem mostrar-se sérios, comprometidos, etc. A pornografia veio depois, com o video. Aí sim, os que censuravam as chamadas pornochanchadas levavam fitas de pornografia explícita para assistir em casa.

EMERSON LINKS

Em 1973, você dividiu espaço com dois diretores, Pedro Carlos Rovai e Aurélio Teixeira, no mesmo longa, "Os Mansos". Que memórias esse projeto deixou para a posteridade?

BRÁZ CHEDIAK

O que mais chama atenção é que, no episódio que dirigi, convidei o escritor Paulo Coelho para o papel principal. Era um cara legal, amigo de todo mundo e bom ator. Nós éramos amigos e o convidei. Ele topou. O filme foi um sucesso. Paulo Coelho deu um show de comicidade.



EMERSON LINKS

Em "Banana Mecânica" (1974), você trabalhou com Carlos Imperial (figura controversa na música, mas introdutor do rock and roll no Brasil e mais os renomados Ary Fontoura, Felipe Carone, Henriquietta Brieba e Zezé Motta. Quem teve a ideia de realizar essa comedia?

BRÁZ CHEDIAK

A ideia foi do Imperial. Fizemos um filme sem roteiro, mas o Imperial tinha boa noção do que queria e equilibramos o trabalho. Ele era um cara generoso e muito inteligente. Ary Fontoura, Felipe Carone, Henriquetta Brieba já haviam trabalhado comigo em outros filmes e éramos muito amigos. A Zezé Motta, maravilhosa atriz, foi indicada pelo Nelson Xavier. Achei que ela não toparia. Era um papel pequeno, sem chances de grande interpretação, mas o Nelson me garantiu que ela faria e a chamei. É ótima atriz. Ótima pessoa. Ainda teve, no mesmo filme, a Nélia Paula, a Rose de Primo, a Kate Lyra, e uma porção de gente que não lembro mais.

EMERSON LINKS

No longa "O Roubo das Calcinhas" (1975), você dividiu esse momento com o cineasta Sindoval Aguiar. Um filme dois em um. Quais são suas principais memórias sobre esse trabalho?

BRÁZ CHEDIAK

Com este filme voltei ao ambiente que gosto: as ruelas, as casas pobres, as prostitutas, os golpistas, etc. Pensei muito em Mario Monicelli enquanto filmava meu episódio. A história dos dois episódios eram minhas e roteirizei com o Cecil Thiré e o Sindoval. O Arnaud Rodrigues também participou. O diretor de produção, Maurício Nabuco, que era também ator, teve problemas de saúde no segundo episódio e assumi a direção de produção (episódio dirigido pelo Sindoval) e, consequentemente, mudamos alguns cenários, mudei alguns técnicos e as coisas se ajustaram. O filme foi um dos maiores sucessos, no Brasil.



EMERSON LINKS

De repente, surgiu a comedia "Eu Dou o que Ela Gosta" (1975), onde trazia como protagonistas Ênio Gonçalves e Fernanda de Jesus. De onde surgiu a ideia do título, um tanto sugestivo? As presenças dos veteranos José Lewgoy, Milton Carneiro, Monah Delacy, Henriquetta Brieba e Sérgio Hingst deram um tempero a mais ao filme? Mas, enfim, esse filme lhe trouxe prazer pessoal ou foi uma experiência circunstancial?

BRÁZ CHEDIAK

Eu havia combinado com o Sindoval Aguiar de produzirmos um filme juntos. Deveria ser "O Roubo das Calcinhas", mas o dinheiro não deu. Então fizemos o "Eu Dou o que Ela Gosta". Temos um bom elenco, bons técnicos, etc, mas foi apenas um exercício profissional. Como nunca fui financiado por órgãos públicos e queria viver apenas de cinema, tinha que abrir essas concessões.

Mas o filme está aí. É válido, como você pode ver. O elenco é o mesmo de muitos filmes meus. E lancei Fernanda de Jesus, que se mostrou boa atriz. Leda Zeppelin, excelente, tem uma interpretação digna de nota, mas ela desapareceu de repente, não sei o motivo.

O título... é o seguinte: num trailer que assisti na época, havia uma narração: "O que elas gostam não é mole, não...". E o público ria. Resolvi sintetizar, tirar o excesso da narrativa, colocar no plural, e ficou o título "Eu Dou o que Ela Gosta".


Ênio Gonçalves e Fernanda de Jesus em cena.

Em 1975, Fernanda de Jesus debutava no cinema, tornando-se musa em tal época.


EMERSON LINKS

Em "O Grande Desbum" (1978), você teve Ney Latorraca e Marília Pera no elenco. O que te atraiu realizar esse projeto?

BRÁZ CHEDIAK

Dirigi em parceria com Antônio Pedro, grande diretor e ator. Mas o filme ficou sem personalidade, apesar do elenco maravilhoso, liderado por Marília Pera (uma das melhores atrizes brasileiras de todos os tempos). Mas o filme não deu certo. Até hoje me sinto triste porque não realizei um filme mais denso com a Marília. Prometi a ela, quis fazer esse filme, mas não consegui descobrir uma história e levantar a verba. Sinto muita saudade da Marília.



EMERSON LINKS

Em "Perdoa-me Por Me Traíres" (1980), você contou com a forte presença "física" de Vera Fischer, atriz que tinha um dos corpos mais sensuais da época. Você tinha consciência de que esse recurso de usar o erotismo ajudava a vender uma obra audiovisual?

BRÁZ CHEDIAK

O filme não tem erotismo. Vera Fischer é uma grande atriz e, me perdoem os outros diretores, considero "Perdoa-me Por Me Traíres" o melhor desempenho de sua carreira. Tem momentos em que ela parece uma Ingrid Bergman na maneira de representar. Vera está comovente fazendo Judith. A beleza dela estava apenas a serviço da interpretação. E ela é ótima intérprete. Acho que está na hora da jovem crítica dar uma olhada na interpretação dela. Vale a pena. Lídia Brondi, Rubens Corrêa, Monah Delacy, Angela Leal, Nuno Leal Maia, Zaira Zambelli... Estão todos muito bem. Grandes interpretações.


Lídia Brondi em diversos momentos do longa-metragem.


EMERSON LINKS

Quais foram os ingredientes dos seus filmes responsáveis por sua popularidade como cineasta? Foram as atrizes em destaque, o roteiro ou o contexto oferecido como alternativa de entretenimento momentâneo?

BRÁZ CHEDIAK

Foi o trabalho. Fiz filmes de diversos gêneros em diversos momentos. Trabalhei duro, 18 horas por dia, durante muito tempo e isso me levou a conhecer meu ofício e a que ele se dirigia. Fiz bons roteiros e errei em outros, trabalhei com bons atores e boas atrizes, participei do entretenimento mas "Navalha na Carne", que não é entretenimento foi um grande sucesso... Mas o que mais me importava era trabalhar, estudar, levar à sério a profissão que escolhi para viver.

EMERSON LINKS

Reza a lenda que muitas atrizes de sucesso ou mesmo fenômenos fugazes foram lançadas por você como diretor. Você se sentiu gratificado nesse sentido?

BRÁZ CHEDIAK

Nunca pensei sobre isso. Aliás, nem acompanhei a carreira das atrizes ou atores que lancei. Mas fico feliz quando alguém reconhece que trabalhar comigo serviu para alguma coisa. Arte é aprendizado.



EMERSON LINKS

Você filmou Nelson Rodrigues, "Bonitinha, Mas Ordinária" (1981). Fale sobre esse trabalho, que também foi um sucesso estrelado por José Wilker, Vera Fischer e Lucélia Santos.

BRÁZ CHEDIAK

Era um sonho antigo filmar Nelson Rodrigues. Fiz a adaptação com ele, o que foi um grande prazer. O elenco é estelar: grandes atores, grandes atrizes. E, como sempre faço, convidei uma velha e maravilhosa atriz, Madame Henriette Morineau ("Em Perdoa-me Por Me Traíres", convidei além de Madame Morineau, Sady Cabral). Gosto de trabalhar com os mestres. Mas, como dizia, formei um elenco ótimo. A única coisa que ninguém ficou sabendo é que o 1º Peixoto seria o Daniel Filho (um ator rodrigueano por excelência). Mas as filmagens atrasaram e ele teve que fazer um trabalho para a Globo, em Paris. Entrou, então, o Milton Gonçalves, que também deu um show. O filme se transformou num sucesso incrível.



EMERSON LINKS

Finalmente, o longa "Álbum de Família" (1982), onde você trabalhou com a talentosa Dina Sfat e novamente com Lucélia Santos, porém, isso encerrou uma etapa profissional de sua vida ou um exílio temporário?

BRÁZ CHEDIAK

"Album de Família" fiz a pedido do Nelson. Não é meu gênero, mas ele insistiu e filmei. Lucélia, como sempre, está sempre, está magistral. Marcus Alvisi, Rubens Corrêa, Vanda Lacerda... estão todos bem. A fotografia do Hélio Silva também é um destaque, assim como a música de John Neschling.




EMERSON LINKS

Você já pensou em se associar a outros talentos, produzindo histórias, projetos promissores ou pretende parar por aí?

BRÁZ CHEDIAK

Sim, já pensei, mas fazer captação não é meu forte. Mas gostaria de fazer outro filme com Lucélia, uma atriz visceral, e com tanta gente nova que está dando shows de interpretações. Me agrada trabalhar com bons atores e atrizes.

Bráz Chediak e Lucélia Santos.


EMERSON LINKS

Foi uma surpresa para parte do público saber que no resto do país, conforme aponta a matéria que escrevi para o blog sobre várias produções independentes que não recorreram a Lei Rouanet e editais. O que você teria a comentar sobre isso?

BRÁZ CHEDIAK

Nunca fiz filme com a Lei Rouanet. Uma vez me inscrevi para um filme BO (baixo orçamento) mas, mesmo com minha trajetória, com minha biografia, me negaram. Isso num ano em que financiaram filmes de milhões e milhões de reais. Então vi que em jogo de cartas marcadas você só perde tempo, tentando.



EMERSON LINKS

Você pretende assistir essas produções independentes citadas anteriormente por mim no blog A BÍBLIA DO CINEMA, como é o caso do longa O DIÁRIO DE UM EXORCISTA, de Renato Siqueira? Ou como Evandro Berlesi, do Rio Grande do Sul, que criou o grupo de cinema independente ALVOROÇO? Ou mesmo Dimas Oliveira Junior que com os grupos formados na Oficina Rosina Pagan, em São Paulo, realiza filmes fora do circuito? Obs. Eu mesmo estou tocando, como você sabe, os já mencionados A BÍBLIA DO CINEMA, A BÍBLIA DO ROCK e O AMOR NOS TEMPOS DA INTERNET. Todos estes livros e longas-metragens estão em curso. Enfim, você pretende assistir os cineastas acima citados a fim de se atualizar e passar um pouco da sua experiência através de parcerias entre diferentes gerações?

BRÁZ CHEDIAK

Acho que vocês estão fazendo um bom trabalho. São boias de salvação num país que não preza muito a cultura. Continuem. Torço por vocês, sempre. Quem sabe um dia faremos uma parceria?

EMERSON LINKS

Você acredita que esse movimento possa se tornar forte a ponto de influenciar as grandes produtoras a investir em novos talentos?

BRÁZ CHEDIAK

Sim, mas sempre pensando que o mercado é mais aberto para o longa-metragem. O cinema brasileiro precisa reconquistar seu público, ainda que a concorrência com as super produções de Hollywood seja terrível. Mas quem sabe encontrarão um caminho, como o neo realismo italiano encontrou, por exemplo! Fizeram filmes de baixo custo, fáceis de ser compreendidos e amados pelo público, e conquistaram o mundo. No Brasil, isto pode acontecer.

EMERSON LINKS

Sobre a polêmica em torno da extinção do Ministério da Cultural e CPI da Lei Rouanet o que você teria a declarar?

BRÁZ CHEDIAK

Não posso fazer uma análise, já que nunca fiz filmes com a Lei Rouanet e nem estou atualizado sobre o assunto. Creio que este assunto deve ser debatido com toda a classe artística brasileira, antes de ser tomada qualquer decisão.



EMERSON LINKS

Cite um ou mais injustiçados do cinema brasileiro.

BRÁZ CHEDIAK

Lima Barreto e Aurélio Teixeira deveriam ser mais estudados. Todos os diretores, atores, técnicos, deveriam ser mais estudados. J. B. Tanko, Watson Macedo, Vitor Lima, Hugo Christensen, Walter Hugo Khouri, Roberto Pires, Luís Paulino... Não cito os vivos porque ainda estão completando suas obras, mas temos muitos ótimos.

Carlos Hugo Christensen, um dos injustiçados do cinema.


ENCERRANDO...

EMERSON LINKS

Que conselho você daria a um profissional que esteja, agora, iniciando um projeto de cinema, hoje, baseando-se na sua experiência e exemplo como profissional da classe?

BRAZ CHEDIAK

Pense apenas no filme que está fazendo, esqueça comentários, notícias, etc. E trabalhe. Trabalhe muito. Procure grandes atores e atrizes (não precisa ter muito nome) com os quais tenha afinidade. E utilize cenários novos, não cenários gastos. Não esqueça o ritmo – interior e exterior, estamos na era da Internet, vivendo num “mundo fluído”, nos dizeres de Bauman. E NÃO SIGA MEUS CONSELHOS.

EMERSON LINKS

Revele qual pergunta gostaria que lhe fizesse numa entrevista e ainda não foi feita, até então. Coloque tal pergunta e possível resposta.

BRAZ CHEDIAK

Acho que do jeito que está dá pra ter uma visão geral, sem ficar cansativo. Você selecionou bem as perguntas, Emerson. Grande abraço.


Para saber mais sobre o cineasta, assista no you tube clicando no video abaixo:




Confira alguns filmes lançados por BRAZ CHEDIAK no cinema:


NAVALHA NA CARNE



DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA


AS CONFISSÕES DO FREI ABÓBORA


OS MANSOS

BANANA MECÂNICA


O ROUBO DAS CALCINHAS

EU DOU O QUE ELA GOSTA

BONITINHA MAS ORDINÁRIA




UM DOS LIVROS LANÇADOS POR BRÁZ CHEDIAK.