Diretor e roteirista. Um dos sobreviventes da geração que surgiu na década de 1970, na lendária Boca do Lixo, na região central de São Paulo. Mesmo com textos que seguiam a cartilha de esquerda, conseguia driblar a censura do governo militar da época, através dos filmes que lançava, sempre com revestimento nitidamente erótico. Também atuou como jornalista e autor de livros sobre cinema. Atualmente é consultor da série "Magnífica 70", produzida pela Conspiração Filmes.
A ENTREVISTA
EMERSON LINKS
Naturalmente, vamos começar falando
da sua carreira antes de idealizar o primeiro longa-metragem de sua carreira
como diretor. Você sempre quis realizar esse tipo de trabalho em cinema ou tinha
em mente se aprimorar em outro segmento?
ALFREDO STERNHEIM
Ainda
na adolescência, pensava somente em ser ator. Mas, após assistir as filmagens
de "Osso, Amor e Papagaios" durante dois dias (era figurante), minha ambição se
tornou mais ampla. Passei a ter vontade de dirigir, de fazer filmes também.
Mais tarde, desisti de ser ator.
EMERSON LINKS
Quais são suas maiores lembranças
sobre a história do cinema? Cite influências,
tais como gênero de filme, atores e diretores?
ALFREDO STERNHEIM
Não
sei precisar. Gosto dos mais variados gêneros. Inclusive musicais Mas só me foi
permitido fazer dramas, policiais e comédia. Mas tenho meus
diretores preferidos: Billy Wilder, Alfred Hitchcock, Max Ophuls, Ingmar
Bergman, Douglas Sirk, Zeffirelli, Blake Edwards, Louis Malle ...
EMERSON LINKS
Como foi a sua experiência em seu
primeiro trabalho de direção “Paixão na Praia” (1971)?
ALFREDO STERNHEIM
ALFREDO STERNHEIM
Difícil.
Com a típica insegurança de uma estreia na direção de um longa metragem.
Ainda por cima, com muitas limitações
econômicas: 18 latas de negativo apenas, 18 dias de filmagem. Mas acho que me
sai bem!
EMERSON LINKS
EMERSON LINKS
Você trabalhou também com grandes
comediantes como Norma Benguell, Adriano Reis e Ewerton de Castro em “Paixão na
Praia”. Qual foi a sensação de fazer parte disto? Você já tinha consciência de
estar trabalhando em algo que seria reconhecido como clássico no futuro?
ALFREDO STERNHEIM
ALFREDO STERNHEIM
Não
tinha consciência – e creio que ninguém tem – de um futuro reconhecimento como
clássico. Norma
já era uma estrela internacional e tinha convivido com ela em “Noite Vazia”
(1964), quando fui assistente de Walter Hugo Khouri. Adriano era um ator
popular e Erton, eu o descobri no teatro, fiquei espantado com aquele talento
incrível no palco, escrevi o personagem pensando nele. Nesse filme trabalhei
também com Lola Brah, uma atriz mítica de nosso cinema. Escrevi pensado nela.
Acabou se transformando em grande amiga. Foi emocionante poder contar com eles
no filme.
EMERSON LINKS
No ano seguinte, você dirigiu o longa “Aquelas Mulheres” (1973). Comente suas experiências ao participar desta produção.
ALFREDO STERNHEIM
No ano seguinte, você dirigiu o longa “Aquelas Mulheres” (1973). Comente suas experiências ao participar desta produção.
ALFREDO STERNHEIM
Fiz
um episódio que ficou inacabado na finalização sonora. Como todo o longa. O meu
episódio tinha Lillian Lemmertz, Roberto Bolant e Sergio Hingst. Foi
estimulante na filmagem, mas triste ao ver que não iria ser finalizado.
EMERSON LINKS
Ainda em 1973, você dirigiu o filme “Anjo Louro”, onde a atriz Vera Fischer se consagrou, dividindo cenas com os saudosos Mário Benvenutti e Celia Helena. Esse seu trabalho foi proibido pela censura federal da época na quinta exibição. Quais foram suas impressões sobre esse trabalho posteriormente?
Ainda em 1973, você dirigiu o filme “Anjo Louro”, onde a atriz Vera Fischer se consagrou, dividindo cenas com os saudosos Mário Benvenutti e Celia Helena. Esse seu trabalho foi proibido pela censura federal da época na quinta exibição. Quais foram suas impressões sobre esse trabalho posteriormente?
ALFREDO STERNHEIM
Gosto muito do filme, acho que resistiu ao tempo, mas ficou prejudicado pelos cortes impostos pela Censura Federal da Policia Federal então dirigida pelo repressor General Antonio Bandeira. Não perdoou a sua arbitrariedade. Eu o odeio assim como o chefe da censura da época Rogério Nunes. Faço questão de declinar o nome desses senhores autoritários que serviam a ditadura militar.
Gosto muito do filme, acho que resistiu ao tempo, mas ficou prejudicado pelos cortes impostos pela Censura Federal da Policia Federal então dirigida pelo repressor General Antonio Bandeira. Não perdoou a sua arbitrariedade. Eu o odeio assim como o chefe da censura da época Rogério Nunes. Faço questão de declinar o nome desses senhores autoritários que serviam a ditadura militar.
EMERSON LINKS
Por que, no seu entender, as comédias românticas passaram a ser taxadas de "pornochanchadas", um rótulo incomodo (para alguns realizadores) e que se prolongaria por décadas. Qual visão você tinha deste trabalho na época?
ALFREDO STERNHEIM
A minha visão e a de muitos na época é a
que estávamos fazendo cinema.
EMERSON LINKS
Não fui eu que criei esse rótulo de "pornochanchadas" e sim os críticos da época (releia, por gentileza, a minha pergunta acima se for o caso). E se as comedias eram taxadas de pornochanchadas pela crítica dessa forma, então que os profissionais desta época se retratem. Verifique que na sua entrevista para a Zoom Magazine, o jornalista se refere ao termo, publicada em 11 de abril de 2016). Também considero "pornochanchada" um rótulo incomodo para os realizadores dos anos 1970. Pois bem... Vamos a próxima pergunta. (...) Em “Lucíola, O Anjo Pecador” (1975), você trabalhou com Carlo Mossy e Rossana Ghessa, desta vez numa adaptação de um romance de José de Alencar. Quais as razões de optar por uma adaptação e não por outra história original?
ALFREDO STERNHEIM
Não fui eu que criei esse rótulo de "pornochanchadas" e sim os críticos da época (releia, por gentileza, a minha pergunta acima se for o caso). E se as comedias eram taxadas de pornochanchadas pela crítica dessa forma, então que os profissionais desta época se retratem. Verifique que na sua entrevista para a Zoom Magazine, o jornalista se refere ao termo, publicada em 11 de abril de 2016). Também considero "pornochanchada" um rótulo incomodo para os realizadores dos anos 1970. Pois bem... Vamos a próxima pergunta. (...) Em “Lucíola, O Anjo Pecador” (1975), você trabalhou com Carlo Mossy e Rossana Ghessa, desta vez numa adaptação de um romance de José de Alencar. Quais as razões de optar por uma adaptação e não por outra história original?
ALFREDO STERNHEIM
Foi
escolha do produtor Alfredo Palácios. E fiquei feliz com a escolha do livro e o
fato de me chamarem para dirigir. Uma benção que me levou (junto com o filme)
ao IVº Festival Internacional de Teerã em 1975, certame que tinha filmes e e presenças de Lina Wertmuller,
Antonioni,ves Boisset, William Holden,
Rex Harrison, Charlotte Rampling, Dyan Cannon
e outros Foi maravilhoso ver o filme ser assistido e aplaudido por mais
de 800 pessoas de outra cultura (o povo do Irã).
EMERSON LINKS
Em “Corpo Devasso” (1980), você teve David Cardoso no elenco e Ody Fraga no roteiro. O que te atraiu realizar este projeto?
Em “Corpo Devasso” (1980), você teve David Cardoso no elenco e Ody Fraga no roteiro. O que te atraiu realizar este projeto?
ALFREDO STERNHEIM
Eu que ofereci o projeto para o David, escrevi pensando nele para o papel principal. Me atraiu passar por um tema pouco explorado por nosso cinema: o do jovem que sai do ambiente rural e vai para a cidade grande onde também se prostitui.
Eu que ofereci o projeto para o David, escrevi pensando nele para o papel principal. Me atraiu passar por um tema pouco explorado por nosso cinema: o do jovem que sai do ambiente rural e vai para a cidade grande onde também se prostitui.
EMERSON LINKS
Em “Violência na Carne” (1981), você contou com a forte presença “física” de Helena Ramos, atriz que tinha um dos corpos mais sensuais da época, no circuito de cinema que atuava. Você tinha consciência de que esse recurso de usar o erotismo ajudava a vender a obra audiovisual?
ALFREDO STERNHEIM
Tinha.
Em “Violência na Carne” (1981), você contou com a forte presença “física” de Helena Ramos, atriz que tinha um dos corpos mais sensuais da época, no circuito de cinema que atuava. Você tinha consciência de que esse recurso de usar o erotismo ajudava a vender a obra audiovisual?
ALFREDO STERNHEIM
Tinha.
EMERSON LINKS
Qual foram os ingredientes dos seus filmes responsáveis por sua popularidade como cineasta? Foram as atrizes em destaque, o roteiro ou o contexto oferecido como alternativa de entretenimento momentâneo?
ALFREDO STERNHEIM
Acho que, de tudo um pouco.
Qual foram os ingredientes dos seus filmes responsáveis por sua popularidade como cineasta? Foram as atrizes em destaque, o roteiro ou o contexto oferecido como alternativa de entretenimento momentâneo?
ALFREDO STERNHEIM
Acho que, de tudo um pouco.
EMERSON LINKS
Reza a lenda que muitas atrizes de sucesso ou mesmo fenômenos fugazes foram lançadas por você como diretor. Você se sentiu gratificado nesse sentido? Exemplos: Vera Fischer, Sandra Brea, Rossana Ghessa, Helena Ramos, etc.
ALFREDO STERNHEIM
Reza a lenda que muitas atrizes de sucesso ou mesmo fenômenos fugazes foram lançadas por você como diretor. Você se sentiu gratificado nesse sentido? Exemplos: Vera Fischer, Sandra Brea, Rossana Ghessa, Helena Ramos, etc.
ALFREDO STERNHEIM
É
um exagero, ou uma lenda. Todas elas (as citadas) já eram atrizes consagradas
quando as dirigi. Mas foi um prazer, uma alegria poder dirigi-las.
EMERSON LINKS
Você escreveu uma autobiografia, “Um Destino Insólito”. Fale sobre esse trabalho.
ALFREDO STERNHEIM
Você escreveu uma autobiografia, “Um Destino Insólito”. Fale sobre esse trabalho.
ALFREDO STERNHEIM
Acho
que o livro fala por si.
EMERSON LINKS
Você já pensou em se associar a outros talentos, produzindo histórias / projetos promissores ou pretende parar por aí?
ALFREDO STERNHEIM
Já pensei, aliás penso e me ofereço. Espero que role. Espero que não me deixem parado.
Você já pensou em se associar a outros talentos, produzindo histórias / projetos promissores ou pretende parar por aí?
ALFREDO STERNHEIM
Já pensei, aliás penso e me ofereço. Espero que role. Espero que não me deixem parado.
EMERSON LINKS
Foi uma surpresa para parte do público saber que no resto do país, conforme aponta a última matéria do blog sobre várias produções independentes que não recorreram a Lei Rouanet e editais?
ALFREDO STERNHEIM
Foi uma surpresa. E um ato de coragem que, espero, se amplie. A Lei Rouanet tem seus méritos, mas está tendo um uso muito distorcido. Com muitos casos de orçamentos altos e irreais, incompatíveis com as respostas médias do mercado, , está inflacionando os custos. Essa situação precisa mudar. O Cinema da Boca era muito mais racional nos custos.
Foi uma surpresa para parte do público saber que no resto do país, conforme aponta a última matéria do blog sobre várias produções independentes que não recorreram a Lei Rouanet e editais?
ALFREDO STERNHEIM
Foi uma surpresa. E um ato de coragem que, espero, se amplie. A Lei Rouanet tem seus méritos, mas está tendo um uso muito distorcido. Com muitos casos de orçamentos altos e irreais, incompatíveis com as respostas médias do mercado, , está inflacionando os custos. Essa situação precisa mudar. O Cinema da Boca era muito mais racional nos custos.
EMERSON LINKS
Você pretende assistir essas produções independentes citadas no blog A BÍBLIA DO CINEMA, como é o caso do longa O DIÁRIO DE UM EXORCISTA, de Renato Siqueira, que assim como você é diretor e roteirista simultaneamente? Ou como Evandro Berlesi, do Rio Grande do Sul, que criou o grupo de cinema independente Alvoroço? Ou mesmo Dimas Oliveira Junior com o grupo Oficina Rosina Pagan, em São Paulo, que realiza filmes fora do circuito? (Tenho observado ao entrevistar todos os diretores aqui que não há união, quando deveria haver, não há intercâmbio quando o certo seria isso, vide reportagens anteriores do meu blog). Obs. O próprio entrevistador é cineasta e está tocando projetos como o já mencionado A BÍBLIA DO CINEMA, BÍBLIA DO ROCK e O AMOR NOS TEMPOS DA INTERNET. Todos estes livros e longas-metragens registrados no EDA e estão em curso. Enfim, você pretende assistir os citados, para se atualizar a nova realidade e passar um pouco da sua experiência através de parcerias de diferentes gerações?
ALFREDO STERNHEIM
Pretendo. Quero ter essa oportunidade. Quero passar a minha experiência e receber a dos novos. Nesse sentido, um dos trabalhos mais gratificantes que fiz foi participar do projeto da série "Magnifica Setenta", sob a liderança do cineasta Claudio Torres, ao lado de roteiristas mais jovens. Foi maravilhoso.
Você pretende assistir essas produções independentes citadas no blog A BÍBLIA DO CINEMA, como é o caso do longa O DIÁRIO DE UM EXORCISTA, de Renato Siqueira, que assim como você é diretor e roteirista simultaneamente? Ou como Evandro Berlesi, do Rio Grande do Sul, que criou o grupo de cinema independente Alvoroço? Ou mesmo Dimas Oliveira Junior com o grupo Oficina Rosina Pagan, em São Paulo, que realiza filmes fora do circuito? (Tenho observado ao entrevistar todos os diretores aqui que não há união, quando deveria haver, não há intercâmbio quando o certo seria isso, vide reportagens anteriores do meu blog). Obs. O próprio entrevistador é cineasta e está tocando projetos como o já mencionado A BÍBLIA DO CINEMA, BÍBLIA DO ROCK e O AMOR NOS TEMPOS DA INTERNET. Todos estes livros e longas-metragens registrados no EDA e estão em curso. Enfim, você pretende assistir os citados, para se atualizar a nova realidade e passar um pouco da sua experiência através de parcerias de diferentes gerações?
ALFREDO STERNHEIM
Pretendo. Quero ter essa oportunidade. Quero passar a minha experiência e receber a dos novos. Nesse sentido, um dos trabalhos mais gratificantes que fiz foi participar do projeto da série "Magnifica Setenta", sob a liderança do cineasta Claudio Torres, ao lado de roteiristas mais jovens. Foi maravilhoso.
EMERSON LINKS
Você acredita que esse movimento possa se tornar forte a ponto de influenciar as grandes produtoras a investir nos novos talentos?
ALFREDO STERNHEIM
Acredito.
Você acredita que esse movimento possa se tornar forte a ponto de influenciar as grandes produtoras a investir nos novos talentos?
ALFREDO STERNHEIM
Acredito.
EMERSON LINKS
Fale um pouco de seu trabalho do dia a dia, como sobrevive no mercado e planos para o futuro.
ALFREDO STERNHEIM
A sobrevivência está difícil. Mas escrevo textos de crítica, dou palestras sobe vários fases da História do Cinema e sobre o cinema brasileiro. E aceito encomendas de roteiros.
Fale um pouco de seu trabalho do dia a dia, como sobrevive no mercado e planos para o futuro.
ALFREDO STERNHEIM
A sobrevivência está difícil. Mas escrevo textos de crítica, dou palestras sobe vários fases da História do Cinema e sobre o cinema brasileiro. E aceito encomendas de roteiros.
EMERSON LINKS
Quais são suas influências como diretor?
ALFREDO STERNHEIM
Citei acima os diretores que admiro, mas não sei se tenho influência deles.
Quais são suas influências como diretor?
ALFREDO STERNHEIM
Citei acima os diretores que admiro, mas não sei se tenho influência deles.
EMERSON LINKS
Cite um ou mais injustiçados do cinema brasileiro.
ALFREDO STERNHEIM
Jean Garrett, J.B. Tanko, Fauzi Mansur, Afranio Vital, José Medina, eu... José Carlos Burle, Salce...
Cite um ou mais injustiçados do cinema brasileiro.
ALFREDO STERNHEIM
Jean Garrett, J.B. Tanko, Fauzi Mansur, Afranio Vital, José Medina, eu... José Carlos Burle, Salce...
EMERSON LINKS
Que conselho você daria a um profissional que esteja, agora, iniciando um projeto de cinema, hoje, baseando-se na sua experiência e exemplo como profissional da classe?
ALFREDO STERNHEIM
Não sei. Os tempos são outros, a forma de produção mudou.
EMERSON LINKS
Muito obrigado então.
Que conselho você daria a um profissional que esteja, agora, iniciando um projeto de cinema, hoje, baseando-se na sua experiência e exemplo como profissional da classe?
ALFREDO STERNHEIM
Não sei. Os tempos são outros, a forma de produção mudou.
EMERSON LINKS
Muito obrigado então.
(FIM DA ENTREVISTA)
Para saber mais sobre o cineasta, assista no you tube: