terça-feira, 29 de janeiro de 2019

CAIO JUNQUEIRA




De feitura frágil e rosto de menino, o ator ficou marcado como coadjuvante de luxo em filmes e novelas.


  Não é de hoje que vivenciamos momentos em que artistas com morte prematura nos comovem de sopetão. E se este artista é alguém que você conheceu pessoalmente essa emoção invade o muro da racionalidade. O que posso dizer sobre esse ator antes de abordar sua carreira são os momentos em que ele esteve presente no Festival de Cinema Brasileiro de Gramado, com o filme "Buena Sorte", dirigido por Tânia Lamarca. Eu trabalhava como jornalista cobrindo o evento e não como cineasta. Na época, eu era muito franzino e não atlético como hoje. Na festa de encerramento, achava estranho que todas as pessoas que passavam por mim sorriam e me cumprimentavam. Fui descobrir posteriormente, ainda durante a festa, que eu havia sido confundido com o ator. Boa parte do público via semelhança, coisa que discordo totalmente por avaliar minhas fotos dezenas de vezes e não encontrar nenhuma semelhança, enfim... Um casal, a certa altura da noite, na pista de dança, exclamou: É ele!!! E eu, atônito, blindei a declaração com outra pergunta: "Ele quem?" - Caio Junqueira!!! O ator que fez o personagem estilo Zorro. E eu, completando com educação: "Não vi esse filme, portanto não sou quem vocês pensam." Em seguida, Barretão, Luiz Carlos Barreto passou pelo mezzanino e apertou minha mão com certa reverência. Fiquei estupefato. Mais por não me achar nem um pouco parecido com o gentil ator com quem conversei depois que pela confusão estabelecida. Então outro gentil ator exclamou (não lembro quem) "parecido não é igual". Risos.
  Pois bem, entrando no fio condutor da história, lembro que o filme em questão ("Buena Sorte") trazia os atores Marcos Palmeira, Gracindo Junior e Karina Barum no elenco. Naquela época, Caio não era um ator popular, era jovem como eu, porém, como ele era filho de atores encontrou alguns atalhos que normalmente outros profissionais não encontram para atingir êxito substancial em sua carreira. De qualquer forma, em 1998, Caio era muito conhecido no meio, mas em Gramado, nas ruas, podia andar normalmente sem ser incomodado. O filme citado havia sido produzido em 1996, mas em 1998, o Festival de Cinema de Gramado passou-lhe a tão honrada estatueta, ou seja, Caio Junqueira ganhou o Prêmio Especial de Júri. Ele era um menino de talento, sem dúvida, mas possivelmente não protagonizou nenhum filme de ponta, em toda a sua carreira por ficar preso a imagem que biologicamente não poderia se desconectar - a do eterno Peter Pan caboclo.


  Caio de Lima Torres Junqueira nasceu em 20 de novembro de 1976, no Rio de Janeiro, capital. Era filho do também ator Fábio Junqueira e meio-irmão do ator Jonas Torres (este obteve êxito apenas em sua infância atuando na novela "Vereda Tropical", nos idos de 1984, além de uma efêmera aparição no seriado "Armação Ilimitada"). Já Caio, desde a infância emplacou trabalhos na TV, sendo sempre aprovado na maioria dos testes de elenco. Em 1985 era Jonas que brilhava no papel de Pedrinha em "Vereda Tropical", sucesso na Rede Globo, com os atores Mário Gomes (na época, um grande comediante) e Lucélia Santos (ainda estrela de novelas e filmes como "O Sonho Não Acabou"). Entretanto, foi Caio Junqueira quem conseguiu se desdobrar em vários trabalhos posteriormente seja no cinema ou na TV. Eu diria que vários requisitos o mantiveram no topo. Um deles foi trabalhar bem a própria imagem sem nunca ficar sobrecarregado. Determinados atores que fazem sucesso demais acabam sofrendo super exposição e despencam rapidamente. Caio sempre teve consciência de que era um ator e não um astro.
  Logicamente, se formos analisar friamente o passo a passo da carreira do ator, em tempos que o cinema brasileiro não tinha uma produção efervescente como nos dias de hoje, a TV brasileira dos anos 1990, de longe, foi o veículo que mais projetou o menino para a fama. Só na Globo, Caio trabalhou em séries como "Desejo", "Engraçadinha", "Hilda Furacão", "Chiquinha Gonzaga", "Um Só Coração" e "Aquarela do Brasil", e também em novelas, tais como "Barriga de Aluguel", "A Viagem", "Um Anjo Caiu do Céu", "O Clone", entre outras. Mas foi em 2004, em outra emissora, a Record, que alcançou projeção através do remake da novela de "Escrava Isaura", onde interpretou Geraldo, um abolicionista e melhor amigo da protagonista. Na nova fase da Rede Record, fez "Ribeirão do Tempo" (2010), "José do Egito" (2013) e "Milagres de Jesus" (2014). No cinema, deixou sua marca em produções de qualidade variada como na já citada "Buena Sorte" (1996), "For All - O Trampolim da Vitória" (1997), "O Que é Isso, Companheiro?" (1997), "Central do Brasil" (1998), "Gêmeas" (1999), "Quase Nada" (2000), "Abril Despedaçado" (2001), "Zuzu Angel" (2006), entre outras. O chamado "povão" teve contato maior com seu trabalho a partir do mega sucesso de "Tropa de Elite" (2007), de José Padilha. As inúmeras reportagens que noticiaram a morte de Caio Junqueira não deixam eu mentir que o policial Neto foi o papel mais marcante de sua carreira. "Tropa de Elite" é um filme icônico e quem participou deste filme entrou para a história do cinema nacional do século XXI.
  Caio Junqueira partiu aos 42 anos de idade, vítima de um acidente de carro, o qual dirigia em alta velocidade pelo Aterro do Flamengo. Segundo o que mostram as câmeras da Prefeitura do Rio, ele  perdeu o controle da direção, bateu numa árvore e capotou. Chegou em estado grave no Hospital Miguel Couto e nele permaneceu em tratamento por uma semana, mas veio a falecer à 5 e 55 da manhã de 23 de janeiro de 2019. Uma vida interrompida de forma inesperada. Muitos artistas que não autodestrutivos como ele seguem o sonho de se tornar uma grande personalidade além das telas e dos palcos. Caio Junqueira não viveu o suficiente para trilhar uma carreira internacional como Rodrigo Santoro, mas carimbou seu nome na memória de fãs e amigos que trabalharam com ele.

Caio Junqueira no primeiro longa da duologia "Tropa de Elite".




Para saber mais sobre CAIO JUNQUEIRA, assista no you tube:


Entrevista com Caio Junqueira, Cajuína Carioca.


Entrevista no "Hoje em Dia" sobre o filme "Tropa de Elite".


Caio Junqueira nos bastidores de "Tropa de Elite", no Fantástico, Rede Globo.


Caio Junqueira no Domingo Espetacular, na Record, falando sobre "José no Egito".


 Caio Junqueira. Especial 25 anos de carreira.


Caio Junqueira falando sobre o filme "Viva Sapato".

Caio Junqueira apresenta a cidade de Ribeirão Preto.

Morre uma semana após o acidente de carro no Aterro do Flamengo, RJ.









Lúcio Mauro Filho revela última conversa com Caio Junqueira.

AGUARDE O TÉRMINO DA MATÉRIA QUE ESTÁ SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL.


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