domingo, 5 de maio de 2019

MORRE JIMMY PIPIOLO, O ASTRO DO HUMOR DOS FILMES DO CANTOR TEIXEIRINHA

Chileno, mas brasileiro e gaúcho de coração, o artista foi popular entre os anos 1970 e 1980, quase ofuscando o ator principal dos filmes em que atuava.


ERA UMA LENDA VIVA

  Eu poderia iniciar o texto inserindo a tão desgastada queixa em favor dos artistas veteranos que normalmente são esquecidos pela mídia e, até mesmo, por grande parte do público. Poderia, sim, entretanto isso me faria cair numa vala comum, a qual a maioria dos formadores de opinião fazem de tudo para aparecer e pouco acrescentar. Reclamar não basta, chegou a hora de introduzirmos um novo conceito de revitalização no que concerne a memória de um artista . Aqui, neste blog sobre a história de cinema, em muitos artigos que escrevi, procurei sempre acrescentar alguma coisa, sugeri o que poderia ser aprimorado no universo das produções audiovisuais. Infelizmente, sou apenas uma voz (nem isso) porque, nestas páginas virtuais, me comunico com o público através da palavra escrita. Lembro muito desta questão, desde o dia que conheci o comediante Jimmy Pipiolo (antes dele eu já havia conhecido de dezenas de artistas desafortunados), estava inconformado com sua parcial impopularidade (termo bem inadequado porém pertinente). Era uma fase de escrever e beber vodka de madrugada, pesquisar a exaustão para formatar outro projeto valioso e que, no frigir dos ovos, passaria por uma revisão definitiva. Mas, entrando de cabeça na histórica manhã, recordo fugir da azia, devorando uma maçã Fuji, como de costume. A empolgação era tanta que eu dormi menos e sem arcar com qualquer tipo de déficit de atenção. Eu havia realizado um contato com Jimmy via orkut, a antiga rede social, porém, por intermédio de um número de telefone cedido pelo Teixeirinha Filho, pulei etapas finalmente agendando um encontro (a fim de incluí-lo em meu livro). E foi assim... Quando eu o entrevistei pouco antes do meio dia de um sábado, precisamente em 27 de outubro de 2012, num bar da Rua da Praia, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul (a capital gaúcha, para quem não sabe e está chegando agora), foi como se estivesse conhecendo mais um personagem da história do Brasil (como muitos que conheci dentro da cronologia da minha realidade biológica). Na verdade, eu não sinto tão na contra-mão ao mencionar isso. Jimmy Pipiolo pertence a história do humor no cinema brasileiro do século XX. Por uma questão biológica e de cronologia (eu não era nascido em outrora) e só depois, com o advento dos filmes em DVD do Teixeirinha, eu pude conhecê-lo. Eu via esses filmes mais por curiosidade que por gosto pessoal (no caso da música). Isso me faz lembrar que me escapou, também, por razões temporais, a oportunidade de me reunir, também, com outros comediantes clássicos como Oscarito, Grande Otelo, Mazzaropi, Ronald Golias, Ankito e muitos outros. Contudo, por tudo que eu sabia e através da própria entrevista que fiquei sabendo, concluí que Jimmy Pipiolo não era apenas um artista pioneiro do cinema gaúcho, ele, a bem da verdade, havia solidificado seu nome em apresentações ao vivo em teatros, clubes e demais espaços para eventos.
  A Sétima Arte, em sua faixa vibratória imbatível, antes a chegada da internet, ajudou a capitalizar a marca pessoal de Jimmy Pipiolo (como artista) e, apesar da popularidade de Teixeirinha no cinema, na TV e nas rádios AM, se o simpático Chileno caísse nas mãos de "produtores espertos" poderia ter seguido carreira solo atuando nas mesmas esferas que Costinha e Ronald Golias. Ele queria muito se desvincular dos filmes em parceria com o ídolo gaúcho, mas, para isso, devia ter insistido em se fixar no eixo Rio-SP, trabalhando no elenco fixo de programas humorísticos, como por exemplo, A Praça É Nossa ou algo do nível de A Escolinha do Professor Raimundo. Considerando o fato de ser estrangeiro (era chileno), de outra forma, podia ter retornado a sua terra natal (especificamente ao seu país de origem) e procurado novos contratos no cinema e na TV, a fim de obter êxito em toda a América Latina. Quis o destino (ou ele próprio) que o melhor já havia sido feito e o que entrasse dali em diante seria lucro.

Da direita para a esquerda: Emerson Links e Jimmy Pipiolo.

A CARREIRA

  Juan Manuel Nuñez Vidal era o nome que constava em sua certidão de nascimento. Ele nasceu em 23 de dezembro de 1939, em Santiago, no Chile. Ainda jovem conseguiu se fixar no Brasil. Durante a entrevista que fiz com ele, lembrou que se considerava muito feio e que a melhor ferramenta de ganhar a vida era mesmo a sua aparência e aquilo que podia expressar através dela. Tinha olhos esbugalhados, cabelos encaracolados e levemente acima do peso, mas aprendeu sozinho o ofício, autodidaticamente, ou seja, sabia imitar pessoas como ninguém. Foi o primeiro humorista estrangeiro em solo gaúcho a fazer sucesso no cinema (considerando que o pioneiro do humor em stand up era Renato Pereira, mas o sucesso deste último se restringia ao programa de televisão que participava, o Portovisão, completando um time de jornalistas). No final da década 1960, tempos que o cantor Teixeirinha já fazia sucesso no cinema ("Coração de Luto"), a jovem guarda ainda estava em alta (mesmo sem o programa de TV), a MPB de protesto estava na moda e o rock pesado internacional começava a se tornar o favorito da juventude, parecia não existir lugar para um comediante que chamava atenção de um seleto público quando imitava o então célebre Lucho Gatica. Em um episódio em que Teixeirinha entrou numa churrascaria para matar a fome e se deu de cara com o histriônico Pipiolo atuando em uma esquete impagável, os ventos começaram a soprar a seu favor. Também pudera, o humorista estava imitando ninguém menos que o Teixeirinha (!)
  Apesar de engraçado, os diretores implicavam com o português de Jimmy que não era, digamos assim, publicamente digesto. Então, ele acabou sendo dublado por outros atores (profissionais do eixo Rio-SP) em quase todos os filmes que trabalhou com Teixeirinha, "Motorista Sem Limites" (1969), "Ela Tornou-se Freira" (1972), "Teixeirinha a 7 Provas" (1973), "Pobre João" (1975), "Carmem, A Cigana" (1976), "A Quadrilha do Perna Dura" (1976), "Na Trilha da Justiça" (1977), "O Gaúcho de Passo Fundo" (1978), "Meu Pobre Coração de Luto" (1978), "Tropeiro Velho" (1979). Sua última aparição no cinema foi em "As Aventuras de Paulinho Mixaria" (2013), onde divide espaço com comediantes da nova geração incluindo o personagem que dá título ao filme.
  Nos períodos de vacas magras, pós-filmes com Teixeirinha (o cantor tinha morrido em 1985), Jimmy recorria aos espetáculos ao vivo em boates e clubes. Eventualmente era chamado para participar de algum programa de TV, mas os velhos tempos jamais voltaram, exceto de forma simbólica quando participou do video clip da banda de rock Video Hits. A espera de projetos que aproveitariam sua presença cênica, entre eles, um longa que eu escrevi em parceria com o filho do Teixeirinha, jamais se concretizaram em razão dos obstáculos criados pela máfia da Lei Rouanet. Jimmy Pipiolo vivendo no país dos privilégios era um dos que mais mereciam continuar no topo, mas estava fora. Meu último contato com ele seria apenas o da realização da entrevista que durou cerca de 120 minutos, por sinal, o tempo de duração de um filme de maior projeção. Eu pretendia reencontrá-lo e apresentá-lo a amigos meus que faziam cinema independente com bom alcance de público. Ele seria bem aproveitado na Alvoroço Filmes (assim como Sirmar Antunes o foi), mas, infelizmente, não sobrou tempo para correr atrás disso. Todos nós já temos compromissos de sobra para honrar.
  Não queria encerrar este texto-homenagem falando em morte (já sabemos, agora, que isso aconteceu) e as circunstâncias não importam tanto (pois todos que o conheciam vão querer se lembrar apenas dos bons momentos que passaram no cinema). Mas vá lá: Sábado, dia 3 de maio, por volta das 14 horas, Pipiolo se sentiu mal, sofreu insuficiência respiratória e faleceu na casa do filho dele (Sandro Ricardo Medeiros Nuñez), no bairro Lami, na zona sul de Porto Alegre. Ocorreu que uma unidade da SAMU foi acionada, mas ele não sobreviveu. Então, prefiro encerrar o texto, com algo positivo como, por exemplo, no ano passado, em novembro, momento que o comediante clássico foi personalidade homenageada no "Destaque Cultural", prêmio concedido pela Academia de Escritores do Litoral Norte Gaúcho aos agentes culturais da região. Melhor assim, não?   


Jimmy Pipiolo e Pelé. 
     

Um dos filmes de maior sucesso do ator.

Jimmy Pipiolo no elenco de O Gaúcho de Passo Fundo.


ASSISTA no you tube:

Jimmy Pipiolo no Jô Soares.

3 comentários:

  1. Me lembro dele! Um ótimo humorista sem dúvidas! Muito engraçado! Pena que não teve oportunidades para trabalhar em programas como A Praça é Nossa e outros que o fariam brilhar ainda mais!belíssima homenagem Emerson Links! Parabéns!

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  2. Baita artista, muito engraçado, fez parte da minha infância ,ia nos filmes Teixeirinha, eu e meu irmão recebemos cartas, tenho até hoje guardada uma fâmula do Teixeirinha e Mary Terezinha, depois fiquei sabendo que minha tia Ingrid Rockenbach que tinha escrito para produtora do Teixeirinha sobre a ocasião de eu e irmão irmos nos filmes deles, tinha até autógrafo impresso na carta. Jimmy Pipiolo vai fazer falta pro cenário artístico cada vez mais órfão dos grandes talentos.Descanse em paz com Deus, Jesus, minhas condolências aos familiares, amigos, todos consternados com sua partida física!

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  3. Eu tive privilégio de encontrar ele em portão RS fiquei 1hr conversando com ele através do Facebook vi um rapaz ao lado dele e pergunte se ele tinha o contato esse rapaz era o filho dele .passei meu contato para filho do jumy sem esperança de retorno mais um certo dia ele próprio me ligou o Jimmy pipiolo e deu seu endereço em portão na casa de amigos assim foi meu encontro falamos dos filmes da sua vida tiramos fotos enfim cada vez que vou pra serra eu passo por portão e lembro disso .um ano depois ele morreu.

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